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A obesidade é uma doença crônica, multifatorial e de alta complexidade, que até pouco tempo contava com recursos terapêuticos limitados. Avanços na compreensão da regulação do apetite e do peso corporal, abriram caminho para o desenvolvimento de medicamentos eficazes que atuam em receptores de hormônios responsáveis pelo controle do apetite e do metabolismo.
Entre os medicamentos disponíveis no Brasil, destacam-se a Semaglutida da Novonordisk, e a Tirzepatida da Lilly. Esses fármacos são bastante eficazes: a Semaglutida promove uma redução média de 15% do peso corporal, enquanto a Tirzepatida alcança resultados médios em torno de 20% de peso em um ano de uso, números que vem revolucionando o tratamento clínico da obesidade.
E o que é mais animador é que essa é apenas a ponta do iceberg! Diversas moléculas estão em fase de pesquisa clínica, prometendo ampliar ainda mais o arsenal terapêutico. Um exemplo proeminente é a Retratutida, em desenvolvimento pela Lilly, que já demonstra potencial de oferecer resultados superiores aos medicamentos atuais, com resultados que até pouco tempo só era possível com a cirurgia bariátrica.
A Retatrutida, molécula única que age como triplo agonista de receptores hormonais de GIP, GLP-1 e glucagon, tem mostrado perdas de peso significativas em estudos, uma média de 24% do peso corporal em um ano. Como a medicação ainda está em fase de estudos clínicos e não foi submetida para aprovação pelo FDA, ela não está disponível para uso ainda.
O avanço, porém, não pára por aí. Outras moléculas promissoras em estudo incluem a CagriSema (combinação de semaglutida e cagrilintida), a Amicretina, o oral Orfoglipron, e até uma medicação de uso mensal, o Maridebart Cafraglutida, além de várias outras.
Mas nem todo foco da ciência está apenas na balança. Novas drogas em investigação trazem a perspectiva de preservar e até aumentar a massa muscular, fator crucial para manter saúde metabólica, força e funcionalidade.
O bimagrumabe, anticorpo monoclonal que bloqueia receptores ativina tipo II, apresenta um perfil inusitado: ao invés de promover apenas perda de peso, preserva e até aumenta a massa magra. Estudos mostram redução de 20,5 % da massa gorda, e aumento de 3,6 % na massa magra. Quando combinado à semaglutida, o bimagrumabe promoveu perda total de 22,1% do peso, sendo que 92,8% dessa perda veio da gordura corporal, com mínima redução muscular, um resultado inédito no tratamento da obesidade! Um estudo já estáem curso com a associação do Bimagrumab com a Tirzepatida por via subcutânea, os resultados são:
Estamos apenas no começo de uma nova era. A ciência está ampliando de forma inédita as opções para tratar a obesidade, permitindo que cada vez mais pacientes alcancem não apenas emagrecimento, mas também qualidade de vida e proteção contra doenças associadas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, apneia do sono, cirrose hepática, e vários tipos de câncer. Como médica especialista no cuidado de pessoas com obesidade há mais de uma década, vejo com entusiasmo essa nova era que está transformando a vida de tantos pacientes.
Dra Ana Flávia Torquato
Médica e Mestre em Farmacologia pela UFC; Endocrinologista pela Boston University e pós-graduada em Nutrologia pela USP