
Com o lançamento oficial da 58ª edição do Festival Folclórico de Parintins, feito pelo governador do Amazonas, Wilson Lima, a Ilha Tupinambarana reafirma seu papel como potência cultural e econômica do Brasil. Segundo o próprio governo estadual, a festa é responsável por injetar mais de R$ 100 milhões na economia local, fortalecendo setores como turismo, aviação, hotelaria, gastronomia, comércio, transporte e, claro, entretenimento. Porém, o que pulsa ali é a identidade de um povo, manifestada com cores, sons, rituais e pertencimento.
A rivalidade simbiótica entre os bois Caprichoso (azul) e Garantido (vermelho) extrapola os limites do Bumbódromo e se converte em estratégia de negócio, provocando uma verdadeira revolução nas marcas que decidem participar dessa celebração. Para as empresas, não basta patrocinar — é preciso sentir, respeitar e traduzir a alma do festival em suas ações.
Para um profissional de marketing, viver Parintins é como assistir a um espetáculo em que a teoria da marca encontra sua melhor performance prática. A emoção vem em ondas, não só com as alegorias monumentais ou com as toadas que embalam a arena, mas principalmente ao ver marcas nacionais e globais se despindo de certezas e vestindo o afeto local com verdade.
Marcas ganham sotaque, afeto e entrega
A cada lata vermelha ou azul, a cada perfume lançado com o rosto das cunhãs-porangas, a cada avião customizado com as cores dos bois, testemunha-se o nascimento de uma nova forma de fazer branding: um marketing que escuta, que se dobra à cultura e que se reconstrói com ela.
Caprichoso, o boi de cor azul, nasceu no Ceará. Seu criador, Lindolfo Monteverde, era cearense e encontrou em Parintins o solo fértil para dar vida à sua paixão. Esse dado une duas terras de expressão vibrante: o povo do Norte e a alma do Nordeste. Um elo que me emociona, como cearense, e que reforça o quanto nossa cultura é uma corrente viva e mestiça.

Foto: Divulgação
A Brahma talvez seja o exemplo mais simbólico dessa metamorfose cultural. Criou o termo “Brahmosidade” para traduzir sua entrega ao festival, estampando as latas com as cores dos bois — um gesto raro que transforma produto em símbolo. No lado Caprichoso do Bumbódromo, só se vende Brahma azul. No lado Garantido, só vermelha. É branding com fé e respeito.
A Natura, estreando em 2025, lançou produtos que unem as cores de Caprichoso e Garantido na mesma embalagem, numa ação carregada de propósito. Ao escolher as cunhãs Isabelle Nogueira e Marciele Albuquerque como embaixadoras, a marca reafirma a beleza amazônica, a força feminina e o compromisso com a biodiversidade da região.
A Azul Linhas Aéreas, desde 2024, tem um avião decorado com os bois. Um lado azul, outro vermelho. A ação estética faz parte do reconhecimento de que a viagem não começa no embarque, mas no pertencimento ao território.

Foto: Divulgação
E a Coca-Cola — que há quase três décadas é parceira do festival — já ousou com a icônica lata azul, em resposta ao carinho (e à exigência) dos torcedores do Caprichoso. Hoje, suas ativações têm foco na sustentabilidade e em ações personalizadas para cada torcida. A patrocinadora veterana do festival aprendeu a jogar com o coração local.
Em Parintins, o branding ganha sotaque, afeto e dualidade. E, ao contrário do que parece, não há divisão: há entrega. Há compreensão de que uma marca só permanece quando entende o contexto, respeita o sagrado e celebra o profano com reverência. Parintins é uma aula viva de brasilidade estratégica.
É o Brasil se olhando no espelho — e se achando lindo, colorido e cheio de brhamosidade.
Por Lidú Figueiredo
@lidufigueiredo