
Foto: Lino Vieira
Foi em 2009 que o primeiro caso de câncer entre os filhos de Régis Mota apareceu. Sua filha Anna Carolina, na época com 12 anos, teve leucemia linfoide, que foi tratada e, logo depois, curada. Entretanto, em 2016, foi a vez de Régis de começar as consultas médicas, após descobrir que estava com leucemia linfoide crônica. Pouco depois, quem descobriu uma nova doença, também relacionada a um câncer, foi seu filho mais velho, Pedro.
As coincidências eram muitas, o que fez com que, a partir de um teste genético, Régis e seus três filhos descobrissem que possuíam “Síndrome de Li-Fraumeni”, doença hereditária que aumenta a prédisposição ao câncer. E foi por causa dela que, no último 19 de dezembro, Régis perdeu a sua terceira filha, Anna Carolina, para o câncer. Antes dela, em 2020, Pedro faleceu, e em 2018, Beatriz.
Régis Mota é resistência, otimismo e fortaleza. Hoje, batalha contra o próprio câncer e compartilha um pouco da sua luta nas redes sociais. Ele conversou com a Frisson sobre os diagnósticos e, mesmo em meio a tantas batalhas, pensa com otimismo sobre seus próximos passos. Confira:
Frisson: Antes de descobrir a doença, como era a sua vida em Fortaleza?
Régis Mota: Antes de descobrir o câncer, em 2016 (leucemia linfoide crônica), eu estava atuando como corretor de imóveis desde 2011, e cheguei a montar uma agência de compra e venda de veículos na mesma época. Até o ano de 2016, só quem tinha apresentado câncer tinha sido minha filha Anna Carolina. Ela teve leucemia linfóide aguda em 2009, e foi submetida a tratamento de aproximadamente dois anos e meio e ficou curada. Desde 2016 até os dias atuais, não tenho mais tido condições de trabalhar continuamente, por conta dos momentos em que tive que estar ao lado dos filhos, durante os tratamentos em São Paulo, e também por conta das diversas internações e cirurgias que fui submetido.
Frisson: Pode falar sobre como o senhor descobriu a doença?
Régis Mota: Eu comecei a ter episódios de febre, me sentia cansado com mais facilidade, e observei que surgiram alguns linfonodos no pescoço. Comecei a fazer exames de sangue e já identificamos um pouco de anemia e aumento de linfócitos e leucócitos, com as investigações mais específicas e com biópsia foi diagnosticado que eu estava com leucemia linfoide crônica.
Frisson: A doença passou para seus filhos, certo? Como foi a descoberta que a condição era genética?
Régis Mota: Coincidentemente, meu filho Pedro começou a sentir dores na perna e, com exames e biópsia, foi identificado que ele estava com osteossarcoma na tíbia. O diagnóstico dele foi ao mesmo tempo do meu, ambos em 2016, no início do ano. Com a descoberta dessas doenças, simultaneamente, e também pelo fato da minha filha Anna ter tido câncer poucos anos antes, fomos orientados a fazer uma pesquisa genética tanto em mim como em todos os meus filhos. Fizemos o teste, inicialmente eu e minha filha mais nova, Beatriz, fruto de meu segundo casamento. Descobrimos no teste genético que tínhamos uma alteração genética chamada de “Síndrome de Li-Fraumeni”. Trata-se não de uma doença, mas da falta ou deleção de um gene protetor de doenças e tumores, o que torna os portadores dessa alteração genética mais vulneráveis e muito suscetíveis a ter diversos cânceres ao longo da vida. Num momento seguinte, fizemos o teste genéticos nos outros meus filhos, Pedro e Anna, ambos do meu primeiro casamento. Fizemos ainda o teste genético em minhas duas irmãs. Foi verificado que meus filhos também tinham a mesma alteração da minha e da de Beatriz. Já em minhas irmãs não foi identificado nenhuma alteração genética.
Infelizmente, e também inacreditavelmente, todos os meus filhos faleceram devido a diversos cânceres que foram se desenvolvendo. Quem faleceu primeiro foi a Beatriz, minha filha mais nova, aos 10 anos, em junho de 2018, após tratar uma leucemia linfoide aguda que havia descoberto em maio de 2017. O Pedro faleceu em novembro de 2020, com 22 anos, após ter tratado o osteossarcoma na tíbia em 2016, tratado também osteossarcoma no pulmão em 2017, uma coluna torácica em 2018 e, por último, tratou tumor cerebral em 2019. Ao mesmo tempo que tratou o tumor cerebral, foi descoberto outro tumor na coluna lombar, mas infelizmente o tumor cerebral fez com que ele falecesse. Minha filha Anna Carolina havia tido leucemia linfoide aguda em 2009, com 12 anos de idade. Daquela época até meados de 2021, ela não teve nenhum outro episódio de câncer, até que descobriu um tumor cerebral. No momento em que descobriu o tumor cerebral, ela já era médica e estava com 25 anos. Começou a tratar logo no início da descoberta, mas infelizmente veio a falecer em novembro de 2022.
Frisson: Quais são as lembranças que gosta de destacar sobre seus filhos?
Régis Mota: Meus filhos viraram anjos, e todos os dias eu vejo vídeos, fotos, e procuro sempre lembrar dos bons e felizes momentos que vivemos juntos!
Frisson: Como anda o avanço do seu tratamento?
Régis Mota: Eu já tinha o diagnóstico de leucemia linfoide crônica desde 2016 e vinha acompanhando com exames e medicações. Logo após o falecimento do meu filho Pedro, descobri em janeiro de 2021 que parte da leucemia se transformou em um linfoma não Hodgkin. Fiz algumas cirurgias e algumas sessões de quimioterapia, e no final do ano de 2021, ambas doenças estabilizaram. A partir daí, fiquei tomando quimioterapia oral, diariamente, e também fazendo imunoterapia mensalmente, seguido de exames de sangue mensais.
Frisson: Como você anda lidando com tudo atualmente?
Régis Mota: Em novembro de 2022, no momento em que minha filha Anna Carolina veio a falecer, coincidentemente surgiram em mim novamente alguns linfonodos no pescoço e fortes dores na perna. Realizei no início de dezembro alguns exames e tive que me submeter a duas cirurgias agora em janeiro, no dia 7. Essas cirurgias foram para retirar nódulos tanto no pescoço, como também no fêmur, que foram identificados nos exames que eu havia realizado anteriormente. No fêmur, foi extraída a parte comprometida, e colocada endoprótese. Nesse exato momento, estou me recuperando das cirurgias e pelo que já vimos nos laudos das biópsias, terei que iniciar novamente novos ciclos de quimioterapia, pois acredito que as doenças, que estavam até então estabilizadas, estão ativas novamente. Terei que iniciar mais essa luta, novamente. Mas já sei que farei como sempre fizemos, tanto eu como meus filhos, seguirei com fé e otimismo, enfrentando o que vier.
Frisson: O senhor compartilha seu tratamento nas redes sociais. De que forma acredita que as redes lhe ajudam na superação de tudo?
Régis Mota: Eu compartilho meu tratamento e também compartilhei nosso enfrentamento, meu e dos meus filhos, contra essas doenças, assim como também as perdas, para que nossa trajetória sirva de exemplo e inspiração. Tenho tido muitas declarações e depoimentos de pessoas dizendo que nosso exemplo de força, fé e esperança tem impactado positivamente muita gente.
Frisson: Há algo que gostaria de ressaltar sobre todo o seu processo?
Régis Mota: Espero que todo esse processo que passei com meus filhos e que ainda venho passando, possa mostrar o quanto a vida é finita, ao mesmo tempo curta, e portanto, que devemos vivê-la intensamente, com o máximo de prazer e alegria, amando as pessoas e valorizando o que realmente é importante, pois não sabemos o dia de amanhã. E procuro mostrar também, que não importa o tamanho dos obstáculos ou das quedas que a vida impõe, o que importa é levantar e seguir adiante, um dia de cada vez!