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Ciro Gomes em entrevista exclusiva para a Frisson

Em uma entrevista exclusiva para a Frisson, Ciro Gomes, vice-presidente do PDT e um dos nomes fortes para concorrer à cadeira presidencial em 2022, falou abertamente sobre suas expectativas para as próximas eleições e do atual panorama político e econômico nacional. E mais, ele, que acumula em seu currículo político relevantes cargos, como os de ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco, ministro de Integração Nacional no Governo Lula, governador do Ceará e prefeito de Fortaleza, além de ter sido deputado estadual por dois mandatos e deputado federal, criticou o atual governo de Jair Bolsonaro e toda a sua atuação e de sua equipe, seja na Política, Economia, Segurança e, com destaque na Saúde, no enfrentamento dessa pandemia do novo coronavírus. "A equipe de governo, se é que se pode chamar assim, é a de mais baixo nível técnico da história. Mas de longe a performance mais terrível é a atuação na pandemia, que faz do governo o mais criminoso de nossa história, e causa a pior mancha na reputação internacional e, também, auto imagem do Brasil, que será muito difícil recuperar", alertou Ciro. Veja mais a seguir:

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Qual sua avaliação sobre a performance política e econômica atualmente no Brasil?

Como respondi recentemente, se trata do pior momento de nossa história. Digo isso com base em números, não em opinião subjetiva. Bolsonaro está produzindo a maior falência das contas públicas da história. Fui criticado por alguns economistas por lembrar que a dívida pública vai se aproximar pela primeira vez de 100% do PIB e o déficit público primário vai ser de 930 bilhões de reais neste ano, 8 vezes o maior da história. São os mesmos economistas que diziam que o país estava quebrado com o déficit de 17 bilhões de 2014. É claro que esse ano o déficit tinha que aumentar, e muito. Estamos vivendo numa pandemia e temos que pagar para as empresas sobreviverem e as pessoas que puderem ficar em casa. Mas esse governo não pensou em nenhum momento em como financiar parte desse déficit para controlar a explosão da dívida, porque evidentemente essa conta teria que ser paga pelos ricos, no país mais desigual do mundo. Talvez esse seja o motivo pelo qual radicais fiscalistas de repente tenham se tornado defensores do gasto público sem aumento de receita, mas a hipocrisia da diferença de tratamento fica evidente. Agora, não é só isso. Quero lembrar aqui também do aspecto criminal. Vivemos sob a sombra de grandes escândalos não apurados, como o escândalo da Itaipu Binacional que levou a abertura do processo de impeachment contra o presidente paraguaio e a venda, sem licitação, de R$ 3 bilhões de créditos a receber por somente R$300 milhões para o BTG, banco fundado pelo próprio Ministro Paulo Guedes. Tem o aspecto criminal também do ataque às instituições. Assistimos hoje a um inédito aparelhamento da Polícia Federal para proteger os filhos do Presidente e perseguir adversários políticos, ataques ao Supremo, humilhação do Ministério Público com oferecimento de cargo no Supremo, submissão do Exército às milícias. No meio-ambiente a Amazônia está sendo transformada em cinzas. A economia, como previ no início do governo, foi destruída e já estava arrasada antes da pandemia. A ação do governo contra o isolamento e retardando o apoio e crédito às pequenas empresas promoveu o maior extermínio de pequenas empresas da história, como Guedes disse que faria na reunião ministerial que chocou o país. A equipe de governo, se é que se pode chamar assim, é a de mais baixo nível técnico da história. Mas de longe a performance mais terrível é a atuação na pandemia, que faz do governo o mais criminoso de nossa história, e causa a pior mancha na reputação internacional e, também, auto imagem do Brasil, que será muito difícil recuperar. 

Até que ponto considera que a eleição de Joe Biden pode frustrar a onda bolsonarista?

Acho que será mais um elemento do isolamento político de Bolsonaro e do Brasil, tirará a aura de esperança na extrema-direita de forma geral, o exemplo que ele evocava aqui, mas não creio que seja um efeito determinante.

Como avalia a forma como o País reagiu à pandemia do novo coronavírus?

Da parte do Governo Federal, foi a pior reação do mundo. Mais uma vez, não são opiniões, são números. O governo teve três meses para comprar respiradores e testes e controlar a entrada da doença no Brasil e ao invés disso se lançou numa cruzada contra o isolamento social e desinformou a população sobre a doença, inclusive com Bolsonaro receitando como mágico um remédio rejeitado pela comunidade científica nacional e internacional. Isso gerou a maior tragédia de nossa história. Para dar uma correta dimensão da tragédia causada pelo governo, devemos lembrar que enquanto o Brasil tem 208 milhões de habitantes a China tem 1bilhão e 200 milhões. A Covid começou lá três meses antes de chegar ao Brasil. Pois bem, na China morreram cerca de 5 mil pessoas de Covid, no Brasil, hoje, estamos chegando a 100 mil. 100 mil pessoas. Cem mil mães, filhos, avós. Até agora. Estamos em plena expansão da doença, na China já está controlada. Outra dimensão da incompetência única do governo brasileiro, que é, como disse o Felipe Neto, o pior do mundo: no resto da América Latina, com mais habitantes que o Brasil, morreram 35 mil pessoas. Como consequência de ter adotado isolamento radical no começo da doença, a China hoje estima um impacto de 3% do PIB no crescimento. Já o impacto das ações do governo no Brasil foram as piores em todo mundo. A expectativa é de um impacto de menos 8% no PIB. De uma previsão de crescimento de 2% esse ano passamos para uma previsão de queda de 6%. Em suma, é o pior governo do mundo e o pior governo brasileiro de todos os tempos.

Qual o desastre que considera mais crucial na política econômica defendida por Paulo Guedes?

O desmonte da capacidade de investimento do Estado. Esse desmonte em muitas faces. Na face da despesa, com sua política criminosa de pagamento de juros acima da Selic com as operações compromissadas. Na face da receita, com a recusa em tributar os mais ricos para diminuir o rombo em tempos de pandemia. E a longo prazo entregando nosso patrimônio público lucrativo das Estatais em tempos de retração em troca de valores que famosos ladrões da história brasileira recusariam até como propina. 

Qual sua avaliação sobre o marco legal do saneamento básico?

Não acho que tenha sido um avanço. É um diversionismo para dar conta do abandono do Estado para a questão do saneamento. Achar que a iniciativa privada vai levar saneamento básico às favelas é ilusão. Eles vão querer privatizar o que já está construído. Mas é importante que se esclareça ao povo brasileiro que ninguém privatizou esgoto nem água, e sim regulou esses processos, assim como outras questões acerca do saneamento. A privatização de serviços de água e esgoto no Brasil estão permitidas desde a Constituição de 88 e regulamentadas desde o governo Lula. Há, no entanto, vários aspectos positivos periféricos no novo marco legal. Meu irmão Cid achou que era seu dever votar a favor depois que os piores pontos do projeto foram retirados por acordo e que a promessa de um adendo sobre financiamento público para saneamento e taxa social para os mais pobres foi firmada. Bolsonaro vetou essas modificações quebrando os acordos no Congresso. Como resposta, o PDT entrou com ação no STF invocando o direito básico à água. Tanto o PDT quanto eu e meu irmão somos contra a privatização dos serviços de água e saneamento. No Ceará todo o fornecimento é público. Nossos governos jamais privatizaram nem um cano quebrado de esgoto. Ou sequer “concedemos”, que é o verbo que alguns gostam de usar quando privatizam um serviço.

Fortaleza tem tudo para seguir o exemplo das demais capitais nas eleições e colocar a disputa para a decisão popular entre dois polos extremos – um pró-Bolsonaro e outro anti-Bolsonaro. Qual o papel do PDT nesse processo?

O PDT vai mostrar tudo o que Fortaleza já vem conquistando e avançando nos últimos oito anos com Roberto Cláudio, e apresentar um projeto que fará a cidade seguir se desenvolvendo.

Como avalia as gestões de Roberto Claudio em Fortaleza e Camilo Santana no Ceará?

São dois grandes gestores, humanos, sensíveis e trabalhadores. Suas gestões estão fazendo nosso Estado e nossa cidade crescer e se desenvolver de forma acelerada e priorizando as pessoas que mais precisam. 

Em 2022, qual a principal bandeira que pretende defender se vier a ser candidato a Presidente novamente?

As que sempre defendi: desenvolvimento nacional com soberania e distribuição de renda.

A quê atribui suas derrotas eleitorais?

Defender as duas bandeiras que as elites tradicionais nacionais e internacionais mais abominam: desenvolvimento nacional com soberania e distribuição de renda. Isso me coloca no alvo das elites escravagistas brasileiras que não querem diminuir a desigualdade e da elite financista internacional que quer um Brasil agrário, dependente, colônia. O resto é desculpa que eles próprios inventam para me desqualificar, ou alguém acha depois de Bolsonaro que alguém não é eleito no Brasil por causa do “temperamento”? Pega todos os episódios de irritação pública na minha vida e não dá uma semana de Bolsonaro. 

Lula é, indiscutivelmente, um nome marcante na história – positivamente para uns, negativamente para outros. Para o senhor, qual a importância do petista para o País?

Tem uma importância grande na história recente no Brasil, pequena na história geral. Foi o primeiro homem nascido nos extratos mais pobres do Brasil a chegar à presidência, e deu uma atenção maior do que outros governantes ao Nordeste brasileiro, que se desenvolveu muito em seu período e, portanto, é imensamente grato. Executou políticas importantes de renda mínima que tiraram grandes contingentes do povo brasileiro da miséria imediata. Por outro lado, desperdiçou 20 anos de acúmulo de forças e sonhos do campo progressista num governo que, tendo a força necessária, optou por não realizar uma única reforma estrutural no país. Enquanto isso, o desindustrializou, dizimou empregos qualificados e pagou os juros reais mais altos do mundo, mantendo o país o mais desigual do mundo (excetuando o pequeno Qatar). Acredito que na história o governo Lula será visto como mais uma etapa numa longa continuidade de política econômica básica que durou de FHC a Temer, e foi uma das mais fracassadas na história do mundo. Basta ver o que era a Coreia do Sul e a China em relação ao Brasil quando FHC tomou posse e o que são agora.

Ciro Gomes pessoa física! O que mais lhe dá prazer na hora de desopilar?

Viajar, praia, um bom filme, um bom show e brincar com meu filho mais novo, Gael.

Como é sua rotina de cuidados com o corpo, a saúde e a mente?

Agora no confinamento estou com a dieta mais controlada e faço esteira. Já para manter a mente saudável no meio de tanta tragédia e sofrimento no país, a única alternativa é lutar para mudar isso, todo dia.

Ciro Gomes 2030. Como deseja estar daqui a 10 anos?

Desejo estar com o coração tranquilo por ter ajudado o Brasil a celebrar um novo projeto nacional de desenvolvimento e reencontrado o caminho do crescimento e da justiça social, e portanto, da felicidade.

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