
Em um mundo de velocidade, ego e vaidade, há algo profundamente comovente em conhecer um artista que dedica a vida a obras que não são para si, mas para o outro. Genésio Moura é esse tipo raro de homem. Cearense de Fortaleza, ele trocou o entalhe em madeira pelas esculturas monumentais que hoje marcam o imaginário e a paisagem de cidades inteiras pelo Brasil.
Seu nome talvez ainda não esteja nos museus ou galerias de arte, mas suas criações habitam praças, montanhas, serras e, sobretudo, a memória afetiva de milhares de brasileiros.
Conheci Genésio há poucos dias. Me emocionei não apenas com suas obras – que já renderam manchetes como "pai das maiores estátuas do país" – mas com o homem por trás dos gigantes.
De fala serena, jeito simples e olhar generoso, ele compartilhou sua jornada marcada por arte, trabalho, dedicação e um amor inabalável: a esposa Laurinda, com quem é casado há 48 anos.
Genésio lidera um negócio familiar. É ele quem pensa, projeta e desenha como cada arte vai ser; os filhos executam; a filha caçula, Nicole, organiza tudo. Foi ela, aliás, quem mediou nossa conversa.
Obras que tocam o céu e o coração
Entre as obras mais recentes – a gigantesca escultura de São Miguel Arcanjo está sendo construída na cidade de São Miguel Arcanjo, interior de São Paulo. Com 70 metros de altura, tornar-se-á a maior estátua católica do mundo quando concluída. A obra artística de Genésio faz parte de um complexo religioso que inclui a Gruta do Arcanjo e tem previsão de inauguração em 2026.
A estátua de São Miguel Arcanjo será maior que o Cristo Redentor e, atualmente, o maior monumento cristão do Brasil é a estátua de Santa Rita de Cássia, em Santa Cruz (RN), com 56 metros de altura.
Outra boa referência da obra católica de Genésio é a estátua de Nossa Senhora das Graças, já instalada em Bom Repouso, Minas Gerais, que hoje movimenta o turismo religioso na região.
Mas foi quando ele falou da Nossa Senhora de Lourdes, com 40 metros de altura, feita em Ituporanga (SC), que entendi a dimensão do seu talento. “Não sei explicar como faço. Eu só vou fazendo... uso uma técnica artesanal, minha, fui desenvolvendo com o tempo. Simples assim”, afirma Genésio.
Mesmo diante da grandiosidade de suas obras, Genésio preserva algo raro: a peculiaridade do artesão. Cada escultura carrega sua percepção única, suas medidas, seus traços. Os detalhes são pensados com um cuidado que foge à lógica industrial. “Mesmo sendo grande, ainda carrega o traço de quem põe a mão”, diz. E é esse traço que encanta.
A técnica que emociona: traço de artesão, alma de artista
O talento para as proporções fora do comum começou a se revelar cedo. Um dos primeiros trabalhos de grande porte foi um marreco gigante para um evento em Brusque, Santa Catarina – cidade onde ocorre a tradicional Festa do Marreco. A escultura chamou tanta atenção que o artista não parou mais. Vieram Cristos, Budas, santos, figuras emblemáticas como Pelé, e até a imponente Estátua da Liberdade feita para a Havan, com 57 metros de altura.
Ainda assim, Genésio evita os holofotes. “Passei tanto tempo no trabalho, me aborreci tanto com prazos e burocracias, que prefiro ver depois nas reportagens”, confessa, rindo. Ainda assim, quando passa por uma obra pronta – como a estátua da Liberdade de Barra Velha – o sentimento é inevitável: “Penso: como é que eu fiz isso tudo em tão pouco tempo?”
Ao todo, Genésio já liderou equipes de até 20 pessoas em obras que exigem precisão, força e sensibilidade. Mas a arte, para ele, continua sendo coisa de alma. “Desde pequeno, desenhava personagens das revistas. Eu achava que estava só me divertindo, mas estava formando meu olhar”, lembra. Esse olhar hoje molda ferro, cimento, sonhos e fé.
Genésio Moura entrega suas obras às cidades com a alegria de quem dá um presente. Não para ser reconhecido – mas para que aquele símbolo cumpra seu papel: inspirar. “É agradável demais ver o povo admirando... sem nem saber que fui eu que fiz. É gostoso ser anônimo nisso também.”
Nos dias de hoje, em que o talento muitas vezes é ofuscado pelo marketing, conhecer Genésio Moura é um respiro de autenticidade. É ver que o verdadeiro artista não precisa de palco, só de espaço – e ele encontrou isso no coração do Brasil.
Que honra escrever sobre esse cearense que, com simplicidade e grandeza, vai deixando um rastro de beleza pelas cidades onde passa. Em cada escultura, um pedaço da sua história; em cada obra, o abraço de um Brasil profundo, criativo e cheio de fé.
Ao ouvi-lo, não posso deixar de registrar aqui o amor que ele expressa ao falar da trajetória. Como pioneiro nessa área e com uma técnica que o consagrou, ele teve que pensar como empresa, criar processos, pensar no legado e inspirar a família a segui-lo. Como artista, ele precisou escupir a si mesmo. “Valeu a pena!”, emociona-se.
Mais informações:
Instagram: @escultorgenesiomoura
Por Lidú Figueiredo
@lidufigueiredo