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"Motivação no Esporte", por Breno Leal

"Major" Taylor (We Love Cycling). Ciclista negro nos Estados Unidos, na virada do século XIX para XX. Pessoas lhe insultavam, adversários se recusavam em competir contra ele

"Major" Taylor (We Love Cycling). Ciclista negro nos Estados Unidos, na virada do século XIX para XX. Pessoas lhe insultavam, adversários se recusavam em competir contra ele, organizadores não aceitaram sua presença. Por causa de sua cor. Qual foi a razão em ter continuado? Foto: Divulgação

Todo esporte tem como combustível a motivação, que se manifesta ou se inibe de maneiras variadas de pessoa para pessoa. Samulski, autor bastante citado no assunto, afirma que a motivação é um processo ativo com foco em uma meta, dependente de fatores pessoais e ambientais. 

A mensuração da motivação esportiva, por ser dominada por observações empíricas, acaba tendo alguns "vácuos" na literatura científica. No entanto, há um consenso entre os pesquisadores de que é necessário um nível ideal de motivação para dar início a qualquer prática esportiva. 

Também entre os atletas com quem atendi e converso, existe um sentimento quase unânime que a força de vontade influencia no início de qualquer sessão como também os mantém em foco. A quantidade e a forma que se manifestam de forma subjetiva. 

Roas (2011), citou um estudo de Samulski (2002) que listou dentre as principais motivações em atletas brasileiros paralímpicos em Sydney estavam o "prazer da prática", as amizades e o "gostar de competir". No mesmo trabalho, Roas (2011)  aponta para a importância do papel do treinador tanto na continuidade quanto na desistência em modalidades como basquete e futsal. 

Uma conduta positiva e dinâmica do treinador mobiliza o atleta. Metas embasadas na realidade individual, diminuirão as chances de frustração na modalidade praticada. O temor pelo fracasso existe, o treinador pode utilizar de sua expertise para manter a motivação nas adversidades. 

Podemos observar que a motivação é uma via de duas mãos na relação treinador e atleta. O praticante deve encontrar as justificativas na busca de suas metas no esporte, enquanto o treinador procura uma forma de manter a meta dentro do possível explorando as qualidades e ajustando respostas aos fatores que possam inibir uma boa performance.

Esse apoio cotidiano vindo do treinador deve ser somado à chamada rede que sustenta o atleta. Dependendo do nível de atividade, seja ela recreativa ou profissional ou de formação, esta rede de sustentabilidade é o envolvimento positivo das pessoas com as quais o atleta se relaciona em casa ou no trabalho, com os patrocinadores e diretores esportivos (no caso dos profissionais). 

O atleta pode capitanear o alinhamento dos objetivos, a forma de apoio e as recompensas com o seu desempenho, esclarecendo para quem lhe dá apoio como e qual a sua forma de viver o esporte.  

A estrutura física do local de treino deve ter os melhores recursos possíveis para seus atletas, além de atingir as metas, um ambiente favorável ao esporte traz segurança e confiança, mantendo o atleta dentro da visão pela qual está lutando.  

A experiência tem a vantagem de deixar o atleta consciente de suas qualidades, mas pode interferir na continuidade da prática. Na maioria dos esportes, os atletas em seu primeiro ano estão mais presentes em treinos e competições, que pode ser interpretado de duas formas: o desafio que o iniciante vê no seu esporte e a tendência de se conformar que o experiente pode ter. 

Amizades estão envolvidas no esporte, são criadas e fortalecidas conforme as necessidades do grupo. Estar numa equipe não quer dizer que está certo a aquisição de amizades e identificação com ela. Ainda assim, criar relacionamentos contribui de forma positiva. Em uma rápida enquete feita por este blog, a maioria absoluta afirmou que são os amigos e as parcerias formadas que os mantêm no esporte. Enquanto que vencer algum adversário pode ser a motivação para atingir um desempenho melhor. 

A equipe (ou a parceria) com quem o atleta treina deve estar focada em manter uma coesão, identificando as atribuições de cada um dos seus integrantes. Assim, a forma de treinar e competir pode ser eficiente, todos ou a sua maioria atingindo ótimos desempenhos, e eficaz, resultados esperados evitando desgaste físico e mental dos integrantes. 

Por fim, a "personalidade de atleta" ainda não foi encontrada. Não há algum traço ou tipo de personalidade que diferencia um atleta de um não-atleta. Tampouco alguma diferença entre os sub grupos esportivos - individual x coletivo; contato x não-contato (Rubio, 1999). 

Em Rubio (1999), a produção de estratégias e a facilidade de propriocepção podem estar atreladas ao sucesso no esporte, ainda que isso não represente uma mudança na personalidade. No mesmo trabalho, a autora sustenta que a ativação, a ansiedade e o estresse estão lado a lado numa ótima performance, cabe a ciência encontrar qual seu nível ótimo. 

Nos sujeitamos à questionamentos sobre as razões disso e daquilo, em algum momento de nossas vidas esportivas. Vejo até como uma espécie de "reciclagem pessoal" que todo atleta deve fazer. Refletir sobre o peso que a atividade tem em sua vida, utilizar deste recurso como forma de se manter ativo, buscar a sua razão.

Podemos concluir que a comunicação é peça chave para se manter motivado. A comunicação inicia com a relação pessoal do atleta com ele mesmo, para depois ter a transformação das metas em realidade balizada com um treinador e os relacionamentos mantidos de forma positiva para um bom desempenho.

Quanto à escolha do esporte, ela parece estar conectada com estar "no lugar certo, na hora certa". A associação entre os motivos pessoais, as relações inter pessoais e o ambiente da modalidade irão influenciar. 

Quando entrei no triathlon, algumas distâncias sempre pareceram impossíveis. Antes de iniciar ou de alguém me questionar os motivos, eu me fazia a pergunta "por quê não?", não via alguma razão que me prendesse e acabava realizando. É bem parecido com o que observo nos atletas que acompanhamos. Nunca vi alguém que tenha se arrependido de ir a um treino ou a uma prova, e isso acaba nos dando o combustível para continuar trabalhando com esportes.    

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Leituras que contribuíram para a postagem:

UFMG - "A motivação no esporte" (ROAS, 2011)
SCIELO - "Psicologia do esporte" (RUBIO, 1999)

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