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“Roberto Carlos e o especial que parou no tempo”, por Ricardo Feltrin

Na próxima sexta-feira (23), uma parte dos brasileiros assistirá pela TV Globo o tradicional “Especial Roberto Carlos” pelo 46º ano.

Lançado na Globo no dia de Natal em 1974, o programa só não foi ao ar duas vezes: em 1999, quando sua então esposa, Maria Rita, estava internada com o estado de saúde cada vez mais grave devido a um câncer incurável.

Em 2011 ele foi uma reapresentação do show que o “rei” fez em Jerusalém no primeiro semestre.

Em 2020, por causa da pandemia de coronavírus, que impediu a reunião de músicos e amigos do cantor.

Aconteceram outros especiais sobre ou com ele em datas fora do Natal:  “Em Detalhes” (1988); “Pavarotti e Roberto Carlos” (1998) e “Emoções Sertanejas”, em abril de 2010, entre outros. 

Mas, o que quero perguntar aos leitores e leitoras do “Frisson Online”, é outra coisa:

Como a Globo e seu artista mais exclusivo pararam no tempo e tornaram, pouco a pouco, um dos programas mais esperados do ano na TV aberta em um especial repetitivo e modorrento?  

Não estou falando isso com as fontes de minha cabeça, ó, leitores.

Há cinco anos o programa dava mais de 31 pontos de ibope nacional para a Globo (cada ponto = 260 mil domicílios, tendo cada um em média menos de três moradores).

No ano passado, deu apenas 18 pontos. O programa anterior (2019) já tinha atingido sua mais baixa audiência de todos os tempos (17 pontos).

Claro, o “Especial RC” sempre foi líder de audiência (como tudo da Globo), mas isso não esconde a perda de público a cada ano.

A verdade é que, se no próximo dia 23, a Globo exibisse um compilado de vários anos passados, com exceção dos fanáticos fãs, a gente nem sequer perceberia.

Por quê? Porque, repito, a Globo e o cantor pararam no tempo. 

Ano após ano, show após show, é sempre o mesmo formato, as mesmas músicas, as mesmas declarações de amor ao público, as mesmas tentativas de fazer alguma graça; os mesmos arranjos, as mesmas “surpresas” (nenhuma).

Tentem lembrar quem foram os últimos três artistas “convidados” do especial de fim de ano da Globo. Duvido que a maioria de vocês consiga.

Esse ano a atração deve ser ainda mais sombria, devido à morte no mês passado do parceiro de vida e obra de Roberto, Erasmo Carlos.M

Como sou músico também, não posso deixar de estranhar que nem Roberto nem Globo se esforcem para tornar ao menos o repertório do programa maisbtarde interessante ou inovador. Nada. É uma repetição completa.

Vejam bem: não estou aqui questionando nem o Roberto Carlos compositor e muito menos o cantor.

Ele é dono de uma das poucas vozes masculinas brasileiras que atinge a chamada “cabeça” das notas (afinação precisa).

Sua voz é límpida, clara, ele não exagera nos trêmolos e tem um timbre raro e bonito, embora a tessitura (alcance) seja notavelmente pequena.

Em outras palavras, canta quase todas as músicas na mesma tonalidade. Mas, isso é o de menos.

O que Roberto Carlos e Globo devem há anos é algo que, ao menos uma vez na vida, dê uma surpresa ao telespectador brasileiro, que não lhes cause sono.

ps 1: especula-se que Roberto Carlos já tenha recebido no passado até R$ 50 milhões anuais simplesmente para ser um artista exclusivo da Globo. Hoje esse valor deve ter caído bastante; vejam só, há quase 50 anos ele recebe uma fortuna somente para não se apresentar em outras emissoras.  

ps 2: pela primeira vez, em meio a enormes cortes de gastos, já se discute na emissora a possibilidade de encerrar o contrato de exclusividade com Roberto. Compreensível.

Por Ricardo Feltrin

@feltrinoficial

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