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“A ridícula 'demonização' da publicidade”, por Ricardo Feltrin

Foto: Divulgação

Na última coluna falei sobre a decadência da Netflix como a conhecemos. 

O maior serviço de streaming do mundo finalmente capitulou e vai ter pacotes com exibição de publicidade a partir do próximo ano.

Curiosamente, esse foi um dos pilares do lançamento da Netflix no mundo: nada de publicidade. Pois o sonho do CEO da empresa, Reed Hastings, acabou.

Para mim, como jornalista da área, sempre me surpreendi que alguns veículos de mídia tentassem viver sem anúncios.

Para quem não sabe, isso chegou a ser aventado logo após a chegada da internet no Brasil, a partir de 1996.

Alguns portais e jornais online, à época, planejaram vender assinaturas que “livrassem” o leitor de quaisquer anúncios. Jamais entendi o sentido disso.

Afinal, há séculos somos bombardeados com publicidade em todo lugar que olhamos. Na rua, dentro de casa, na TV, na internet, veículos impressos, enfim, tudo tem publicidade.

Quando alguém entrega a você um cartãozinho com nome, telefone e profissão, isso é uma publicidade.

Quando um músico num barzinho de Fortaleza interrompe a apresentação para dar o endereço de suas redes sociais e telefones de contato, oras, isso também é.

Então qual o sentido de “demonizar” agências, publicitários e anunciantes como se fossem um mal para a sociedade?

É exatamente o contrário: são eles que permitem que as empresas sejam financeiramente saudáveis, e que empreguem milhões de pessoas em todas as áreas.

É a publicidade que mantém qualquer veículo de comunicação ou uma atração qualquer de pé. E às vezes você nem percebe.

Um exemplo: logo no início da 3ª temporada (ou 2ª, não lembro exatamente) do famoso seriado “The Big Bang Theory” (dedicado aos jovens), um capítulo mostra os protagonistas deprimidos.

Eles vão a um bar para “encher a cara”. Encher a cara de sucos naturais, claro, porque nenhum deles bebe (exceto Raj, interpretado pelo divertidíssimo ator Kunal Nayyar).

Pois, na frente dos rapazes deprimidos e debruçados no balcão, aparece uma garrafa do bourbon norte-americano Blanton´s 18 anos. 

Está lá, à vista do telespectador, sua linda garrafa com a tampa que tem um jóquei montado num cavalinho (custa uns R$ 1.500,00 no Brasil, mas só se você achar).

Vocês acham que essa garrafa estava ali, num seriado infanto-juvenil, por acaso?

Claro que não. A Blanton´s pagou por isso. É uma pu-bli-ci-da-de. Quantas vezes isso nã acontece em novelas ou filmes? Ou você acha que é um acaso que a mocinha do filme só ande com seu carro japonês híbrido para cima e para baixo?

Além disso, vejamos os números desse gigante chamado anunciante brasileiro.

Segundo dados da Cenp - Mídia (Fórum de Autorregulamentação Publicitária), apenas em mídias, foram investidos mais de R$ 18 bilhões em publicidade no ano passado.

Essa montanha de dinheiro que banca salários e paga impostos ficou dividida mais ou menos assim:

TV aberta: R$ 9 bilhões

TV paga: R$ 1,3 bilhão

Internet: R$ 6,6 bilhões

Rádio: R$ 800 milhões

Jornais e revistas: R$ 400 milhões

Na comparação com 2020, a publicidade no ano passado aumentou 22%. Na comparação com 2018, + de 45%.

Vejam bem: isso é uma estimativa apenas com os anunciantes conhecidos e cadastrados. 

Porque há uma infinidade de anunciantes, anúncios e “merchandising” em pequenos jornais, revistas e emissoras locais etc.

Uma estimativa do montante GERAL da publicidade no Brasil fala em cerca de R$ 50 bilhões investidos anualmente.

Sim, existem abusos no setor e nos veículos. Vejam, por exemplo, a decadente TV por assinatura.

Ali, alguns canais interrompem a programação a cada dez minutos para exibir “breaks comerciais” com a mesmíssima propaganda do maledeto colchão milagroso ou daquele irritante site de passagens aéreas e hotéis.

São os mesmos anúncios dezenas de vezes por dia. Ninguém merece.

Ou então quando, todas as manhãs, um canal auto-intitulado “educativo”, suspende sua programação por uma hora, que será ocupada por um vendedor de panela que “frita” sem óleo.

Não considero isso só um abuso, mas um desrespeito.

Mas, a vida é assim mesmo, e não existe nada e nem ninguém perfeito. Sejam pessoas físicas ou jurídicas.

Mas, daí a transformar a publicidade e os anunciantes em “inimigos” da sociedade ou em algo a ser evitado, para mim tem apenas um nome: estupidez.

Salve a publicidade!

Por Ricardo Feltrin

@feltrinoficial

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