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"No futuro, vídeo “deep fake” dará prejuízo a pessoas e empresas", por Ricardo Feltrin


Renata Vasconcellos (Foto: Divulgação)

Duas colunas atrás comentei aqui sobre a “era de terror” que pode ter começado na internet, depois da publicação de um vídeo “fake” de Anitta fazendo sexo. O vídeo grassou na internet e nos apps de mensagens, no mês passado.

Como expliquei, esse vídeo falso foi feito por meio de um software que mistura reconhecimento e adulteração facial, além de ótimos equipamentos.

Algum desafeto da cantora inseriu seu rosto com quase perfeição no vídeo de uma atriz pornô russa.

Exatas duas semanas após a coluna sair aqui no Frisson Online, foi publicado mais um vídeo “deep fake” com grande repercussão.

Dessa vez, era uma manipulação eleitoral. O vídeo distorcia e mentia sobre uma pesquisa eleitoral fictícia em favor de Jair Bolsonaro.

No vídeo, a âncora Renata Vasconcellos aparecia na bancada do Jornal Nacional, narrando os números com absolutamente naturalidade.

Era tudo uma adulteração feita pelo mesmo programa usado contra Anitta. 

Como disse, todos nós a partir de agora corremos risco de ter nossas imagens e mesmo nossas falas alteradas por meio de tecnologia.

Isso mostra que precisamos redobrar o cuidado ao comentar ou “cancelar” as pessoas nas redes sociais. E também antes de concluir coisas.

Mas, há um outro universo que a tecnologia de produção de vídeos “deep fakes” irá invadir nos próximos anos. Ela promete prejuízos não só morais, mas financeiros, tanto para atores como para a indústria de cinema e streaming.

Já que falamos do vídeo pornô de Anitta, vamos continuar a falar da bilionária indústria dos filmes eróticos mundo afora (movimenta cerca de US$ 100 bilhões por ano, no mundo).

Imagine um grupo de criminosos ou “piratas” que se dedica apenas a publicar ilegalmente filmes pornôs alheios nos sites, e ainda faturar com isso.

Esse grupo poderá “adulterar” digitalmente os rostos de qualquer elenco, e em qualquer filme.

O que significa? Significa que um único filme pornô poderá ter várias atrizes (digitais) como protagonistas.

Por exemplo: todas as loiras de cabelo curto, ou morenas de cabelo comprido, ou ruivas, ou orientais poderão ter seus rostos ou corpos “intercambiados” com imagens de outras mulheres com o mesmo biotipo.

Significa também que, com esse mecanismo, os filmes talvez escapem de programas rastreadores de pirataria, que usam o reconhecimento digital de imagem.

Isso porque alguns elementos do vídeo falso não serão reconhecíveis, quando comparados ao original.

Além disso, produtoras poderão fazer isso legalmente por anos com todo seu acervo de filmes. Poderão multiplicar seu inventário só com um bom editor e programador.

Usei como exemplo o ramo de cinema adulto, mas o provável prejuízo com “deep fake” também deverá atingir os grandes estúdios.

Imaginem uma versão de “E O Vento Levou?” com Audrey Hepburn, em vez de Vivian Leigh.

Ou um episódio de “Star Trek” com Beyoncé no papel da tenente Ohura (Nichelle Nichols, recém-falecida)? E assim por diante.

Tudo isso não é paranoia e nem profecia apocalíptica. É simplesmente a constatação de uma tecnologia usada com fins ilícitos.

E, lamento informar, não há nada que possamos fazer. Exceto contar, no futuro, com novos programas que identifiquem rapidamente um vídeo falso de um verdadeiro.

Pelo que sei, aparentemente o Facebook já está desenvolvendo algo nesse sentido, e em alguns casos consegue rastrear e identificar um vídeo “deep fake”.

Mas, contar com uma empresa privada tão esfomeada por dinheiro, como o Facebook, para salvar a sociedade, não parece ser uma expectativa realizável.

Pelo contrário, parece um pesadelo.

Por Ricardo Feltrin
@feltrinoficial

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