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"Uma questão ética" por Padre Airton Freire


Padre Airton Freire (Foto: Reprodução Instagram)

É preciso considerar, há que se admitir: o que mata a fome pode correr riscos de ser como sobejo tratado, após ter cumprido o seu fim, que é o de saciar a fome. Aqueles mesmos que são saciados fazem o elemento consumido sobejar. Nisso, riscos sempre haverá. Sobejar. Sobejo significa o resto. A parte que fica, depois de servido, e pode se estragar. É o alimento que fica no prato, que depois é dado aos cães, aos porcos. Isso é sobejo. É aquilo de que não mais se necessita e que, a pretexto de não haver desperdícios, decide-se por recolher. Há pessoas que cospem no prato em que comem, há pessoas que açoitam os lábios que a beijam, há pessoas que ferem as mãos que a afagam. Tais pessoas também fazem sobejar e não calculam, no ato, as conseqüências do que isso trará.

As pessoas que já passaram de famintas a saciadas podem então entender que, entre um momento e outro, algo pode acontecer. Por quê? Depois de saciado, larga-se, deixa-se de lado. Mal se lembram do breve instante passado. Isso pode-se falar tanto de pães como das humanas relações. Necessita-se, toma-se, larga-se, abandona-se. Fazsobejar. Não se tema devida reverência por aquilo que, em algum momento, a fome, em qualquer sentido tomado, pôde saciar. Isso Jesus também não podia tolerar, por isso, ele mandou que se fizesse recolher, em doze cestos, restos de pães que os discípulos recolheram para que nada viesse a se perder. Para quê? Para que nada viesse a se perder.

Eu volto a dizer o que, uma vez, já ficou registrado: para que nada venha a se perder, é tão importante conseguir como saber manter. É possível longo tempo se levar para obter algo e, uma vez conseguido, não se saber como mantê-lo ou nisso se manter e se vir a perder ou se tornar perdido, como de não raro vê-se acontecer. Por isso, há que se avaliar, há que bem se pensar, acerca do passo que, na vida, há de se dar. É melhor prevenir do que remediar. Para que não venhas estragar ou te estragar. Para que, depois de ter conseguido, não venhas tu sobejar, hás que bem planejar, porque não te é dado largar aquilo que para ti, em um momento ou por um longo tempo, um bem tenha sido, como de freqüente tem acontecido e que poderia ser evitado. Isso por ti é bem sabido.

Por Pe. Airton Freire

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