A globalização das finanças pessoais trouxe soluções que até poucos anos atrás pareciam impensáveis. Hoje, basta abrir um aplicativo, transferir reais para dólares em questão de segundos e receber um cartão de débito internacional com taxas muito mais competitivas do que aquelas praticadas pelos bancos tradicionais.
Com a popularização desse modelo, plataformas como Wise, Nomad e Inter se consolidaram como alternativas que democratizam o acesso a moedas fortes e reduzem custos para viajantes, freelancers e profissionais que recebem em dólar.
Apesar da conveniência, especialistas em internacionalização alertam que essas alternativas não equivalem a uma conta bancária nos Estados Unidos. Embora funcionem para movimentar dinheiro de forma rápida, não criam raízes no sistema financeiro americano e, por isso, não permitem construir crédito, acessar financiamentos, investir diretamente em ativos locais ou fortalecer relações bancárias de longo prazo.
Francisco Litvay, fundador da Settee International LLC, consultoria sediada na Flórida, resume a questão de maneira clara. Segundo ele, muitos clientes acreditam que abrir uma conta digital já significa fazer parte do sistema americano, mas essa percepção não corresponde à realidade. Para Litvay, as contas digitais funcionam como carteiras de movimentação, enquanto a conta aberta em um banco americano dá identidade financeira ao estrangeiro no país.
Contas digitais internacionais: úteis, mas limitadas
As chamadas contas digitais internacionais oferecem funcionalidades que respondem bem a determinadas necessidades. Elas permitem enviar e receber valores em dólar, realizar câmbio com taxas mais competitivas e utilizar cartões de débito no exterior. Para quem precisa apenas gastar em viagens ou receber pagamentos ocasionais, a solução cumpre bem o papel.
O problema surge quando se considera a inserção do usuário no sistema financeiro norte-americano. Essas contas não estão vinculadas ao FDIC, a agência que protege depósitos de até 250 mil dólares em bancos americanos. Também não criam histórico de crédito, o que inviabiliza o acesso a cartões de crédito locais, financiamentos ou hipotecas. Além disso, não são efetivamente reconhecidas como contas bancárias nos Estados Unidos, mas sim como carteiras digitais hospedadas em instituições parceiras no exterior.
No caso de empresas, a limitação se acentua ainda mais, já que não permitem separar finanças pessoais e corporativas de acordo com a estrutura jurídica americana.
Em síntese, as contas digitais atendem a necessidades imediatas de pagamento e câmbio, mas não criam reputação financeira nem ampliam as oportunidades que só uma conta formal nos Estados Unidos pode proporcionar.
O que muda com uma conta bancária nos EUA
Abrir uma conta em um banco americano como Chase, Bank of America, JP Morgan ou Wells Fargo significa acessar um conjunto de benefícios muito mais amplo. Além da segurança proporcionada pelo FDIC, o correntista passa a existir formalmente para as agências de crédito, o que representa o primeiro passo para a construção de uma reputação financeira sólida.
Essa presença abre caminho para um universo de oportunidades. O titular pode, ao longo do tempo, obter linhas de crédito cada vez mais vantajosas, investir em ativos diretamente no mercado americano, separar de maneira clara as finanças de uma empresa do tipo LLC, além de usufruir de cartões de crédito com benefícios robustos, como programas de milhagem, cashback e condições especiais em hipotecas.
Outro ponto importante é que as contas digitais não permitem criar um cadastro no Zelle, o “Pix americano” usado para envios e recebimentos instantâneos em dólar entre contas bancárias dos EUA. Além disso, mesmo mantendo dólares em contas digitais, o usuário continua sujeito às regras cambiais e tributárias brasileiras, já que essas plataformas têm CNPJ no Brasil, aceitam apenas residentes brasileiros e ainda cobram IOF sobre transações internacionais.
Enquanto a conta digital resolve necessidades pontuais, a conta bancária nos Estados Unidos estabelece uma relação de confiança que se acumula ao longo do tempo e gera retornos crescentes.
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Como observa Litvay, a diferença fundamental está no impacto de longo prazo. Segundo ele, a conta digital atende a demandas imediatas, mas a conta bancária cria uma história que dá acesso a crédito e a produtos financeiros que só estão disponíveis para quem efetivamente integra o sistema americano.
O ITIN como porta de entrada
Para que estrangeiros possam acessar o sistema financeiro americano, é necessário possuir um identificador que substitua o Social Security Number (SSN) e permita a integração ao sistema bancário. Esse papel é desempenhado pelo ITIN (Individual Taxpayer Identification Number), número emitido pelo Internal Revenue Service (IRS) que funciona de forma semelhante a um CPF para não residentes.
Embora tenha sido criado originalmente para fins tributários, o ITIN foi incorporado pelo sistema bancário e passou a ser aceito por bancos, corretoras e seguradoras como documento oficial de identificação.
Ele não gera automaticamente obrigações fiscais, mas confere legitimidade para que estrangeiros existam formalmente no sistema financeiro americano. Isso significa que, com o ITIN, torna-se possível abrir contas correntes, solicitar cartões de crédito e iniciar a construção de histórico financeiro. Sem esse registro, a vida financeira de um estrangeiro permanece restrita a soluções digitais; com ele, abre-se a possibilidade de consolidar relacionamentos bancários de longo prazo.
Como funciona o processo
Embora cada instituição possua regras próprias, alguns elementos se repetem. A maioria dos bancos exige presença física para a abertura da conta, e o atendimento costuma durar cerca de uma hora e meia. Em dois ou três dias úteis, a conta geralmente já está ativa e pronta para uso.
Os documentos básicos incluem passaporte válido, ITIN, comprovante de endereço e número de telefone nos Estados Unidos, essencial para autenticação e contato. No caso de contas empresariais, além do ITIN, são necessários o EIN e documentos societários.
Alguns bancos podem solicitar ainda provas de atividade, como contratos, site ou faturas. Quanto a depósitos iniciais, nem sempre são obrigatórios, mas manter aproximadamente mil dólares costuma evitar tarifas mensais que variam entre dez e vinte e cinco dólares.
Da primeira movimentação ao crédito premium
Com a conta ativa, o próximo passo é iniciar a construção do crédito. O caminho mais comum começa com cartões do tipo secured, que exigem um depósito equivalente ao limite disponível. O uso disciplinado desses cartões, com pagamentos sempre em dia, é reportado mensalmente às agências de crédito e faz a pontuação evoluir gradualmente.
O credit score varia de 300 a 850 pontos. Pontuações abaixo de 579 são consideradas baixas, enquanto acima de 740 entram na faixa de muito bom, e acima de 800 são vistas como excelentes. Com score acima de 670 já surgem os primeiros cartões convencionais, e a partir de 720 é possível acessar produtos premium, como o Chase Sapphire Reserve e o American Express Platinum, conhecidos por oferecerem benefícios como acesso a salas VIP de aeroportos, programas robustos de milhas e cashback.
Riscos e pontos de atenção
A experiência da Settee com clientes de mais de trinta países mostra que muitos estrangeiros enfrentam dificuldades por falta de preparo. Misturar finanças pessoais e empresariais é um dos erros mais comuns e costuma gerar desconfiança nas instituições.
Movimentar valores elevados sem comprovação da origem também é um fator de risco para bloqueios. Outro ponto sensível é o uso de contas americanas para operações com criptomoedas, prática que não é aceita pela maioria dos bancos e pode resultar no encerramento imediato da conta.
Também é preciso estar atento às tarifas e exigências de saldo mínimo, já que o descuido pode resultar em cobranças inesperadas.
Por que a conta bancária americana supera as soluções digitais
O contraste entre contas digitais e contas bancárias nos Estados Unidos é evidente. As primeiras oferecem praticidade e economia em transferências internacionais, mas funcionam apenas como instrumentos de transação. Já as contas bancárias inserem o estrangeiro no sistema, criam histórico, dão acesso a crédito e estruturam relações de longo prazo com instituições financeiras reconhecidas mundialmente.
Para quem deseja investir, empreender ou proteger patrimônio em dólar, o ITIN se apresenta como a chave que transforma a relação com o sistema americano. Ele é o instrumento que permite a transição de simples movimentações para a construção de uma reputação sólida, capaz de abrir portas para crédito, investimentos e oportunidades de expansão.
Como resume Francisco Litvay, a diferença está entre usar o sistema e fazer parte dele.
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