Foto: Lino Vieira
“Pra ter uma empresa de pescado, a primeira coisa é gostar do que faz”. Com menos de 15 minutos de prosa, já se percebe que Ozinar Costa, sócio-fundador da Netumar Pescados, tem propriedade no que fala. Revive memórias de anos atrás, conversa de política, economia e tecnologia, sempre colocando um pé de sentido em tudo que diz de volta para os assuntos do negócio.
Ele segue o raciocínio. “Tem que ter um pouco de ousadia, acreditar no que faz, ter amor. Pensar: ‘eu tenho que fazer bem feito’”. Natural de São João do Jaguaribe, viveu até os doze anos na beira do rio Jaguaribe. Chegando em Fortaleza, em 1972, logo começou a trabalhar com pescados. Viu do mercado uma oportunidade. Em 1990, junto a um amigo, fundou a Netuno Alimentos - mais tarde Netumar Pescados.
Começou com um frigorífico em uma pequena casa firmada no Cais do Porto. Desde 1988 no mesmo local, a empresa de tratamento e distribuição completa 30 anos e segue como uma das grandes marcas do Ceará.
A menos de 50 metros do mar, a Netumar Pescados conta com cerca de 60 funcionários - sendo 80% trabalhadores da comunidade Serviluz - e se firma no mercado como uma empresa familiar. A economista Angela Macêdo, esposa de Ozinar, e o farmacêutico Leonardo Landim, filho mais velho do casal, participam do dia a dia do empreendimento como sócios, garantindo a qualidade dos 75 produtos ativos, entre peixes, crustáceos e moluscos.
E da mesma forma que a pandemia afetou o setor turístico, a Netumar teve uma grande redução de vendas, visto que parte de seus clientes, hotéis e restaurantes, também tiveram modificações nas atividades. Apesar do prejuízo em relação ao ano de 2019, Angela ressalta que a Netumar conseguiu segurar as pontas e não demitir ninguém.
Com 30 anos de trabalho - e pelo menos o dobro disso em história - a Netumar é fornecedora de grandes nomes, como Beach Park, Coco Bambu, Gran Marquise e diversos outros parceiros, se firmando como uma das distribuidores de pontos turísticos de Fortaleza.
Empreendimento da família
Com um ano a menos do que a Netumar, o farmacêutico Leonardo Landim, 29, explica que faz parte da sua memória de criança ver os pais trabalhando duro. “Eu cresci a vida toda vendo eles trabalharem de forma muito dura. Quando criança, eu tinha um certo receio sobre o empreendedorismo. Só já no final da adolescência, foi que amadurecendo eu fui vendo a realidade do porquê havia todo aquele trabalho. Mais ou menos na metade da faculdade, decidi tentar”, declara ele, que trabalha na empresa desde 2015.
Conhecedor dos processos e uma das pessoas à frente no que diz respeito à gestão de qualidade, Leonardo ressalta todos os procedimentos de higienização e segurança - ainda mais rigorosos no que diz respeito à pandemia do novo coronavírus.
Quase da família, Zé Maria, chefe de recebimento da empresa e ex-colega de trabalho de Ozinar antes mesmo do surgimento da Netumar, trabalha na firma há quase trinta anos. Sorridente e com um álcool em gel à mão, explica que não consegue mais pensar em fazer outra coisa. Com 79 anos - e tendo passado 90 dias afastado durante a pandemia do novo coronavírus por ser grupo do risco -, ressalta sua satisfação em estar trabalhando com o que gosta.
Qualidade, transparência e honestidade
Entre os valores em destaque na empresa, a família ressalta diversas vezes a qualidade - garantia dos melhores fornecedores e tratamentos -, transparência - conformidade com os preços, processos e produtos - e honestidade - que garante a veracidade de todas as informações distribuídas”.
“Se você comprar um quilo de camarão, quando descongelar, você vai ter exatamente um . E se você comprar um filé de sirigado, ele será 100% sirigado”, garante Ozinar, que destaca que em algumas espécies de peixe, costuma deixar um pedaço do couro no filé, de forma a garantir para o cliente que a compra é da espécie do peixe indicada.
Atualmente, a Netumar detém do Serviço de Inspeção Estadual (SIE), selo da Secretaria de Agricultura que permite a venda por todo o Estado e que garante que a empresa passou por todas as inspeções de qualidade, como da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e do Corpo de Bombeiros. Leonardo ressalta que o próximo passo é conseguir o selo do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi), lançado em 2020 no Ceará e que permitirá a venda para todo o País.
A 50 metros do mar
Apesar da maresia, Leonardo destaca que trabalhar perto da praia também tem suas vantagens. “Às vezes a gente escolhe voltar seguindo pela praia e é uma vista muito bonita”. Saindo do escritório onde trabalha e dando cerca de 100 passos ao nordeste da empresa, passando pela porta dos fundos e atravessando a rua Pontamar, o mar da Praia do Futuro exibe suas performances, o que faz com que não seja necessária nenhuma concha para ouvir o barulho das ondas.
“Quando estou estressado, vou lá para trás, peço para abrir o portão e olho para o mar. Me dá uma paz”. Ozinar, que desde sua chegada em Fortaleza, trabalha com a economia do mar. Diz que come peixe mais do que qualquer outra carne e que o litoral vem sendo sua casa e escola. “A faculdade mais dura que alguém pode ter é a faculdade da beira da praia”.