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"A aposentadoria de Silvio Santos", por Ricardo Feltrin


Foto: Reprodução

O ano de 2022 vai chegando ao fim com uma mistura de esperança e desânimo na TV brasileira.

A esperança se dá com a perspectiva de que, a partir do próximo ano, o novo governo federal finalmente dê a largada para uma nova Lei de Telecomunicações que permita a esse setor se tornar mais eficiente e competitivo.

Para lembrar: a atual “Lei das TVs”, como é chamada, tem origem em meados da década de 50 e está absolutamente defasada e superada, principalmente num país em que a TV aberta é o maior veículo de comunicação.

Houve alguns “adendos” a essa lei nas últimas décadas. Por exemplo, em 1994, com o advento da TV por assinatura.

Resumindo: a legislação de telecomunicações hoje é mais ou menos como um dinossauro em estado de putrefação. Ela nem fala em internet ou streaming, por exemplo.

Pela lei, hoje um grupo internacional só pode adquirir 30% das “ações” de qualquer emissora de TV ou rádio.

Porém, qualquer estrangeiro pode montar seu próprio site e virar concorrente de produtores de conteúdo brasileiros. Como explicar isso?

Já passou, e muito, da hora de o Brasil se modernizar nas telecomunicações.

Neste momento, em Brasília, um grande lobby de veículos trabalha nos bastidores para a elaboração de novas diretrizes para essa lei.

Uma das esperanças é que seja permitido, em breve, que grandes grupos midiáticos internacionais entrem no país e que tenham direito não só a 30% das “ações” de emissoras, mas até 100%

Já imaginaram se grupos como Disney, Paramount, NBC, Amazon ou Google passassem a oferecer conteúdo na TV abertas?

Se isso ocorresse, o setor daria um gigantesco salto de qualidade no conteúdo oferecido aos telespectadores.

Todas as TVs são favoráveis a essa mudança, exceto a Record e seu acionista principal, o bispo Edir Macedo. Mas, sobre isso, trataremos em uma outra coluna.

Do outro lado do ringue, o desânimo no setor televisivo parece ser muito maior e ligado a um problema até o momento insolúvel, chamado “Covid 19”.

Após quase 3 anos de epidemia, o vírus e suas variantes parecem invencíveis e ameaçam a continuidade de um modelo histórico de atração no Brasil.

O fato é que nenhuma emissora pode mais garantir a segurança de seus apresentadores, equipes e mesmo da plateia ou convidados em gravações.

Por exemplo, na última sexta (11) participei como jurado de uma gravação do “Faustão na Band”. Havia mais de 400 pessoas na plateia.

Dois dias depois, já comecei a me sentir “estranho” e com tosse. Na segunda (14), fiz um exame de Covid, e ele confirmou o que eu temia: finalmente eu havia sido infectado pelo coronavírus.

Desde 2020 eu fiz cerca de 17 exames e todos deram negativo. Do 18º, porém, não passei (graças às vacinas estou apenas com sintomas leves e já quase que totalmente recuperado).

É quase certo que fui infectado na gravação, pois descobri que houve mais cinco ou seis casos na Band logo depois.

Não é culpa da emissora, mas do insidioso vírus, que teima em driblar a medicina e a precaução, por maior que ela seja.

Mas, a questão aqui não é sobre mim e meus 59 anos (ainda cheios de atividade física, graças a Deus), mas sobre estrelas da TV com idade avançada, como Raul Gil, Carlos Alberto de Nóbrega e o maior de todos, Silvio Santos.

Os nossos “velhinhos” da TV aberta.

Desde o início deste ano, Silvio Santos tem tentado de todas as formas retomar as gravações de seu programa dominical, mas a Covid, ou o medo dela, têm sido imbatíveis.

Ele até conseguiu gravar alguns programas, mas tudo acaba sempre sendo interrompido de novo, por causa de surtos de Covid nos bastidores do SBT.

A mais nova variante (ômicron) da Covid, que me infectou, é mais um banho de água fria no desejo do apresentador e dono da emissora em voltar aos palcos. A essa altura da vida, ele não pode se arriscar tanto.

A Covid ameaça encerrar a carreira de Silvio e de quase todos os apresentadores com idades mais avançadas.

A pandemia ameaça encerrar, inclusive, o formato que os tornou famosos por décadas: o programa de auditório.

Afinal, como reunir centenas de pessoas num ambiente fechado e garantir a segurança e saúde delas e das equipes das TVs? Simplesmente não é possível.

Gravar ao ar livre poderia ser uma saída, mas ainda assim não há garantia alguma para ninguém.

Prestes a completar 92 anos, no próximo dia 12 de dezembro, o gigante Silvio Santos parece cada vez mais predestinado a se aposentar compulsoriamente da TV brasileira por causa de um microscópico vírus.

Ninguém jamais imaginaria que um vírus poderia mudar os rumos da TV a esse ponto, mas isso apenas prova a pequenez das nossas intenções ou desejos diante da realidade crua.

Por Ricardo Feltrin
@feltrinoficial

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