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Uma questão ética por Padre Airton Freire

Quando a vida de alguém transcorre ausente de serviço, perde o seu sentido. Quando a vida de alguém consiste em apenas aproveitar aquilo que a natureza tiver lhe proposto, aquilo que ao seu alcance estiver, a vida começa a se empobrecer e, a muito longe, dessa maneira, não se poderá chegar, malgrado tudo o que ao seu alcance por realizar se fizer. Uma vida destituída de sentido significa apenas vegetar. Presa ao supérfluo, circula seus dias em torno de trivialidades e de banalidades começará a se ocupar. À medida que, ao contrário, vive-se para o essencial, estar-se-á, na verdade, pondo-se em prática o discernimento entre aquilo que tão só apraz e aquilo que revela, em atos, de que mais se é, potencialmente, capaz.

Tu precisas ter claro aonde queres ir, onde tu queres chegar, e nunca deves vir a te esqueceres de que todo o teu serviço há de ter lugar não apenas em viver da forma como te aprouver enquanto a morte tarda a chegar. Pois os que assim procedem se ferem e a outros vêm também a ferir. Os que assim agem, no final, desencorajam-se e perdem um referencial estável por onde, com segurança, queiram prosseguir. Vive, portanto, para um sentido, apesar da cota de dor que isso possa trazer consigo. Mas, se sofrer é parte inerente à condição humana, que vivas, pelo menos, com um sentido, aquilo de que tua alma, ao viver, inflama-se e, mesmo na dor, não reclama.

Na vida, é preciso viver para o que faz sentido; sentir o que faz querer. Em razão de um para quê, e não somente para se ter o que fazer, é que se vive o sentido de viver. Pois o sentido mais profundo de tua realidade passará ao largo de ti qualquer banalidade. Não adiantaria dizer o que faz sentido fazer. Nem sempre pelas mesmas coisas o teu coração continuará, ao longo dos anos, a arder. É preciso que o teu coração esteja de tal modo para um fim útil orientado, que o que se estabelecer como contrário passará de ti bem ao largo. Pois, não farás o certo pelo temor de seu contrário: antes, porque tua vontade a esse bem já estará alinhada. Quando a tua vontade ao bem estiver alinhada e do bem fizer seu aliado, tu poderás, então, dizer que tu serás, na terra, o sonho do teu Senhor, aqui realizado.

Quando tu orares, tu orarás ao teu Pai aquilo, tão somente que com o seu desejo tem a ver e, dessa forma, tu poderás dizer: quando eu desejar, deseje eu o que tu desejas e quando eu quiser, queira eu o teu querer. Pois, se o teu desejo ao querer do Senhor vier se juntar, grandes coisas deste mundo, malgrado o limite de tua condição humana, por ti e por meio de ti haverá de se realizar. O Senhor é o primeiro Outro, na linha ontológica e teleológica, com o qual haverás de te realizar. Tu precisas, pois, viver o sentido em que, plenamente, tu venhas te encontrar e, como por ti mesmo, não conseguirias, abre ao Senhor as condições de possibilidade para que, na tua súplica, por uma intensa vontade, Ele venha habitar em ti e, a partir de ti, a obra que Ele para ti desejou.

Por Padre Airton Freire

 

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