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Juíza de Paz, Fernanda Cabral incentiva o voluntariado mesmo em tempos de pandemia; veja entrevista

A juíza, que já vê novas perspectivas para a sociedade pós pandêmica, conversou com a Frisson sobre seus anseios por fazer o bem. Confira a entrevista

Foto: Acervo Pessoal

Fernanda Cabral acredita que o voluntariado pode mudar o mundo. Advogada há 20 anos e juíza de paz há dois, a magistrada tem mais de 20 anos de história no voluntariado, passando por instituições como o Lar Torres de Melo e a Associação Madre Paulina, levando consigo uma trajetória de boas ações.

A juíza, que já vê novas perspectivas para a sociedade pós pandêmica, conversou com a Frisson sobre seus anseios por fazer o bem. Confira a entrevista: 

Frisson: Você passou mais de 20 anos advogando. Como foi a experiência e o que gostaria de destacar nessa trajetória? 

Fernanda Cabral: Advoguei por quase 20 anos dedicando-me exclusivamente a área de Direito de família, sempre me identifiquei com conciliações, com tentativas de recomeços, e muitas vezes também com resoluções de separação, onde eu via claramente a decisão dos casais em se separar. Nesses casos, colocava a vontade do casal como decisão prioritária. Mas, nesses anos em que advoguei, muitas vezes consegui fazer a união novamente de casais que precisavam apenas de palavras de esclarecimento e noções de paciência na vida a dois. Nesta trajetória, gostaria de destacar o quanto é gratificante para um advogado ver que o resultado do seu trabalho gerou confiança e criou um vínculo de amizade entre o profissional e o cliente.

Frisson: Poderia explicar o que faz uma juíza de paz? 

Fernanda Cabral: Juíza de Paz é uma pessoa nomeada e vinculada ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará para a função de fazer casamentos civis, no cartório ou casamentos externos exclusivamente, dentro da jurisdição do cartório para o qual ela foi nomeada. No meu caso, sou a juíza de Paz titular do Cartório do Mucuripe.

Frisson: Você assumiu a função em 2019. Como tem sido a experiência? 

Fernanda Cabral: Minha experiência como juíza de Paz tem sido muito gratificante e emocionante. Imagine você trabalhar num ambiente bonito, confortável e o principal, unindo legalmente duas pessoas que acreditam no amor e que querem ser felizes juntos. Em contrapartida, temos a presença dos familiares e amigos, todos felizes e comungando com a alegria dos noivos.

Frisson: A pandemia influenciou alguma mudança na sua profissão? Pode explicar mais? Houve, por exemplo, mais casamentos ou mais divórcios? 

Fernanda Cabral: Sim, infelizmente a pandemia mudou muito a rotina das celebrações dos casamentos. Foi preciso diminuir muito a quantidade de pessoas na sala de casamentos, pois obedecemos rigorosamente os decretos do governador. Com relação a sua pergunta, se houve mais casamentos ou divórcios, é uma estatística que seria muito difícil de se determinar.

Frisson: Qual a senhora acredita que é o papel do Direito na sociedade?

Fernanda Cabral: O papel do Direito na sociedade é, e sempre será, fundamentado nas regras de boa convivência, viabilizando, por meio de suas leis e normas, uma dinâmica que crie a paz social. Enfim, o Direito garante a segurança da nossa organização social.

Frisson: Você também tem muita experiência no voluntariado. Pode nos explicar sua trajetória?

Fernanda Cabral: Tenho muita experiência no voluntariado e gosto demais. Minha vida não seria completa se eu não me dedicasse ao trabalho com minhas crianças e meus velhinhos! Passei 17 anos sendo voluntária no Lar Torres de Melo junto com minha mãe. Íamos semanalmente e era uma tarde de festa. Cada semana eu inventava uma novidade. Era maravilhoso escutar a história deles. Todos os anos fazíamos uma festa maravilhosa no Lar Torres de Melo, mas, infelizmente, no ano de 2013 meu pai faleceu e nesse ano achei que meu ânimo não daria para alegrar meus queridos velhinhos, e fiz a opção de fazer um Natal para crianças de abrigos. Depois de muita pesquisa, encontrei a associação Madre Paulina e fiquei sendo voluntária por quase sete anos. Amo aquelas crianças, ia todas as semanas e fazíamos também festas, passeios maravilhosos e trabalhos manuais. Infelizmente a pandemia nos tirou da convivência, só nos falamos por telefone ou às vezes por Facetime.

Frisson: Como acha que o voluntariado consegue ajudar a sociedade de forma geral? Acredita que consegue influenciar o mundo de uma boa forma?

Fernanda Cabral: Sim, o voluntariado ajuda muito a sociedade. Se não houvesse voluntários, o que seria da sociedade carente e discriminada? Quando uma pessoa puxa uma corrente do bem, muitas outras acompanham e nunca o movimento para de crescer. Muitas vezes as pessoas não têm tempo disponível para encabeçar um projeto de voluntariado, precisa que exista sempre alguém que desenvolva o projeto e tome a frente para dar o impulso inicial. A partir daí, aparecem várias pessoas que querem colaborar voluntariamente, umas com valores, outras com amor e carinho.

Frisson: Como sua experiência no Direito te ajuda no voluntariado?

Fernanda Cabral: A minha experiência no Direito me ajuda me dando um conhecimento básico, que é fundamental para lutarmos pelos direitos dos menos favorecidos. Também me ajuda a esclarecer e orientar pessoas que estão com problemas jurídicos.

Frisson: Com a pandemia, como conseguiu continuar com o voluntariado? 

Fernanda Cabral: Com a pandemia, tive que reinventar o meu trabalho de voluntariado. Como não podia sair de casa e ir visitar as minhas crianças no abrigo, comecei a pensar nos moradores de rua e nas pessoas que estão passando fome nas comunidades em geral. Tenho a graça de ter muitas amigas que são muito caridosas e comecei a pedir e expor a situação que estamos vivendo. Comecei então a receber alimentos e valores,e entrego semanalmente a três grupos que já distribuem quentinhas e cestas para os carentes. No Dia das Mães, conseguimos distribuir 600 quentinhas de feijoada para nossos irmãos carentes. Mas acreditem, sem as amigas que confiam e colaboram comigo, eu não poderia fazer quase nada, por isso agradeço a Deus sempre e a elas.

Frisson: Quais são seus projetos e objetivos para 2021, em um período pós vacina? 

Fernanda Cabral: Meus projetos objetivos para 2021 são continuar com minha vida profissional como juíza de Paz, agora mais tranquila pois já tomei a segunda dose da vacina e posso dar continuidade as minhas ações como voluntária.

Frisson: E sobre a pandemia, como acredita que ela transformou a sociedade? 

Fernanda Cabral: Para ser sincera, não sei se a pandemia transformou a sociedade. Acredito que as pessoas de bom senso continuarão levando uma vida responsável, e aquelas pessoas que infelizmente não costumam se preocupar com os outros, continuarão suas vidas como de costume. Mais ou menos o que presenciamos nesse período de pandemia. 

A sociedade pós pandemia jamais será a mesma. Passamos por muitas perdas de vidas queridas, por um luto de dor incalculável, por períodos de grande solidão, medos, angústias e desempregos. Enfim, nossas almas estão marcadas a ferro e fogo para sempre. Jamais sonhamos que poderíamos passar por isso.

 

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