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Deusmar Queirós: sucesso e história

Aos 66 anos, Francisco Deusmar de Queirós pode se confundir com a própria história da maior rede de farmácias do Brasil. Nascido em São Bento da Amontada, no interior cearense, ele deu os passos iniciais na carreira empresarial na mercearia (um mercantil de pequeno porte) de seu pai, Antônio Lisboa de Queirós.

Da infância simples, repleta de tradições nordestinas, o jovem empreendedor investiu em uma corretora de valores e leilões para, após uma viagem encantadora aos Estados Unidos, trazer ao seu País um modelo de sucesso de farmácias: que comercializavam mais que remédio e ofereciam serviços e produtos dos mais variados.

Do pacato Bairro Ellery, saiu o modelo que viria a atrair os olhares de investidores de todo o mundo. Nascia, ali, a Pague Menos, que veio a se tornar orgulho brasileiro diante da excelência prestada pelos mais de 15 mil funcionários nas 630 lojas distribuídas por 230 cidades. Conheça, a seguir, o homem que personifica o sucesso e a história da Pague Menos - Deusmar Queirós, com exclusividade, à Frisson.

Homens visionários geralmente estão inseridos em um contexto onde, quando crianças, acreditaram nos sonhos e fizeram por onde realizá-los. O que passa na sua cabeça quando lembra da infância em Amontada? Como era a vida que você levava em família?

A minha infância foi numa casa de comércio no pequeno município de São Bento da Amontada, no interior do Ceará. Era uma escola, ou melhor, uma universidade da vida, e lá se comercializava de um tudo, talvez alguns dos senhores que não nasceram no Nordeste nem saibam do que se trata. Mas os produtos eram cabresto, cangalha, peixeira, urupema, pilão, candeeiro, cabaço e armador. Enxadeco, amolador, alpercata, chicote, landuá, arataca, bisaco e alguidar. Pé de cabra, chocalho, dobradiça, meia dúzia de frasco de confeito, querosene, cartelas de gillete, brilhantina e canivete. Sabonete, batom, balança Filizola com seus dois pratos e pesos reluzentes para pesar feijão, milho, arroz, açúcar, farinha, farinha d´água e goma. Uma vitrine de pão doce, broa, bolacha de pacote, manteiga de latão, carne de charque, tinha cachaça e conhaque São João da Barra, rapadura, quebra-queixo e mariola. Uma rodilha de fumo dando um bote e até parafuso de cabo de serrote.

Em seguida, vim morar em Fortaleza porque meus pais queriam que um dia eu fosse doutor. Menino, continuei com meu aprendizado de comerciante e empreendedor, estudando e trabalhando.

Passado remete à infância, e é impossível não falar da convivência com o pai e a mãe. Qual a importância de cada um deles na sua formação e na consolidação do seu negócio?

A minha gratidão a duas pessoas que foram a base de tudo que sou hoje, os meus pais. Sempre falei muito pouco sobre eles, mas não posso deixar de reconhecer o quanto a minha mãe, Madalena, foi importante na minha formação como pessoa, seja na parte religiosa, no respeito aos semelhantes ou no desejo de vencer na vida. E ao grande baluarte, empreendedor, formador e exemplo de trabalho, o meu pai, Antônio Lisboa de Queirós, com quem aprendi a arte de comercializar desde cedo, pois nasci numa mercearia ou bodega como a chamavam naquela época.

Eu queria trabalhar em uma empresa grande, mas não para fazer carreira como empregado. Meu objetivo era ganhar experiência e um dia ser dono do meu próprio negócio.

Pouca gente sabe da sua experiência como professor de Economia em universidade. Dessa época, qual a influência nos dias atuais em seus negócios? Gostava de dar aula? Pensa em voltar algum dia?

No período de 1974 a 1983, tive uma importante experiência no magistério, após concluir o curso de Ciências Econômicas e Administrativas, fui durante dez anos professor e no final coordenador do curso de Economia da Universidade de Fortaleza.

Aos 34 anos, você já tinha um patrimônio de 1 milhão de dólares. Como assim?! Isso na década de 70 – com as peculiaridades econômicas e políticas bem adversas – era complicado de alcançar. Qual o segredo?

Graduado em economia, trabalhei em grandes empresas com o objetivo de ganhar experiência para abrir meu próprio negócio, o que aconteceu aos 30 anos, quando abri a PAX Corretora de Valores e Câmbio Ltda. Quatro anos depois, no final da década de 70, havia conquistado um patrimônio de um milhão de dólares. Houve um nicho de mercado em que acreditamos e devotamos muito suor e esforço para alcançar a dianteira nesse Mercado. Eram os Leilões da carteira de títulos do Finor, administrada pelo Banco do Nordeste. Fizemo-nos presentes em todos os 100 primeiros leilões, o que nos deu a liderança.

Suas viagens aos Estados Unidos, onde conheceu o modelo de drugstores americanas, teve que papel na hora de implantar um negócio no Brasil?

Enquanto trabalhava no mercado financeiro, passei duas temporadas fazendo curso nos Estados Unidos, onde conheci as drugstores americanas. Fiquei encantado com a diversidade de produtos, elas vendiam de tudo até salgadinho, era bem diferente das farmácias do Brasil, que só vendiam remédios e poucos artigos de perfumaria. A grande diversificação das drugstores permitia vender remédio a um preço baixo, porque o lucro menor dos medicamentos era compensado com margens melhores nos demais produtos. Achei o sistema muito interessante e comecei a pensar em como adaptá-lo ao Brasil. Ter uma farmácia me pareceu ótimo. Todo mundo precisa de remédio, além disso eu simpatizava com a ideia de lidar com comércio, porque era um tipo de negócio mais parecido com a mercearia que eu tinha quando criança.

A primeira farmácia que você abriu foi o bairro Ellery. Por que esse bairro especificamente e não o Centro, por exemplo?

Ousadia, conveniência e cidadania formam o tripé de sustentação da Pague Menos, desde sua criação. Em 1981, as farmácias estavam concentradas no Centro e na Aldeota, abrimos na periferia para levar mais saúde e preço baixo para todos, copiando o modelo das drogarias americanas. A Pague Menos era bastante diferente das concorrentes, foi a primeira a colocar gôndolas no meio da loja com produtos de higiene, beleza e conveniência, também foi a primeira a manter as portas abertas nas farmácias 24 horas, além de ser pioneira no serviço de correspondente bancário.

 

Uma empresa precisa ser administrada com a mesma competência em qualquer lugar, seja qual for a área de atuação dela. Mas, para cada ambiente territorial, pode haver uma peculiaridade. A Pague Menos está em todo o País. Como é o mecanismo para oferecer o mesmo serviço em locais com condições distintas?

Procuramos construir uma relação de confiança e uma política permanente de valorização dos talentos internos. Como resultado, 3% dos funcionários nos acompanham desde a fundação da Pague Menos, em 1981, e 15% estão conosco há mais de dez anos. O turnover está abaixo dos 3% ao mês.

O crescimento contínuo da empresa, por si só, abre oportunidades de ascensão profissional. Mas é preciso mais, o que nos leva a investir em treinamento e qualificação permanentes. Só em 2013, já temos programadas mais de 300 mil horas-aula. Além disso, constituímos Tropas de Elite, formadas por funcionários com pelo menos dez anos de casa. Essas equipes são acionadas sempre que a primeira loja da rede em uma cidade está prestes a abrir as portas, auxiliando em todos os preparativos. Após a inauguração, passam mais 15 dias treinando os novos funcionários, o que ajuda a difundir mais rapidamente a cultura das Farmácias Pague Menos.

Anualmente, realizamos o Levantamento de Necessidade de Treinamento (LNT), cujas informações alimentam o Plano Anual de Treinamento (PAT). O departamento de Desenvolvimento Humano, na matriz em Fortaleza, coordena as ações desenvolvidas em todo o Brasil e cada regional dispõe de uma estrutura física para os treinamentos. Na matriz, são promovidas também avaliações semestrais de desempenho, na qual os funcionários mais destacados recebem certificados, divididos em categorias Prata, Ouro e Diamante, e são premiados com a prática de uma remuneração variável.

É importante respeitar e ouvir as ideias de todos, mas a empresa tem uma liderança com objetivos firmes e com poder de convencimento para que todos sigam as ideias que levam ao cumprimento das metas e objetivos estabelecidos.

Uma rede de farmácias tão importante e consolidada no mercado deve incomodar a concorrência. Como o senhor dribla as ações de outras empresas do ramo?

A concorrência nos dá força para corrigir as falhas e aprimorar os pontos fortes, não permitindo acomodações. Portanto, ela é necessária.

O movimento da concorrência só reforça a profissionalização do varejo farmacêutico. A formação de companhias fortes, mais sustentáveis financeira e administrativamente, é fundamental para atender à crescente expansão do consumo no setor farmacêutico, cujas vendas registram aumento médio de 15% ao ano.

E, é claro, essa consolidação serve de estímulo para que redes como as Farmácias Pague Menos sigam sua trajetória de expansão. Mas acredito que saímos na frente por já ter em nosso plano estratégico o investimento no interior, região onde o ciclo de consumo cresce a olhos vistos e ainda apresenta um grande potencial. Das nossas mais de 630 lojas, 42% estão longe das capitais, mas queremos ampliar esse número – tanto que mais de 62% dos pontos de venda abertos no ano passado ocupam regiões interioranas.

As grandes redes que estão nascendo no setor se fortaleceram nas capitais, mas precisam olhar para outros mercados e entender os novos anseios do consumidor brasileiro e suas muitas particularidades.

Nosso preparo consiste em investimentos, tecnologia, capilaridade e distribuição. A expansão orgânica ganhará força com um investimento de R$ 800 milhões em 400 novas lojas até 2017. A meta é atingir 1000 unidades até 2017.

Em meio a algumas adversidades que podem surgir, como contorna a situação a fim de manter o foco e seguir com firmeza?

Vontade de vencer.

Para driblar a rotina agitada e repleta de compromissos, como faz para administrar o tempo entre família e profissão, sem prejudicar um ou outro?

Evito viajar aos sábados, domingos e feriados.

Uma empresa de grande porte e com atuação em áreas distintas pode passar por momentos pouco agradáveis. Quais as dificuldades que mais enfrenta no cotidiano?

Falta de mão de obra e barreiras regulatórias.

O futuro a um prazo extremamente longo é incerto e, por isso, imprevisível. Como o senhor espera estar em 2015, por exemplo?

Cada vez mais realizado e com muita disposição e saúde.

Nas horas vagas, o que mais gosta de fazer?

Ler jornais e revistas.

De que maneira cuida do corpo e da saúde?

Com uma alimentação balanceada.

Qual a lição que o senhor dá para quem inicia a carreira agora?!

Acredite nos seus sonhos.

Tem muita vaidade?

Sim.

Para onde gosta mais de viajar?

Pelo Brasil.

Qual estilo musical preferido?

MPB.

Curte assistir televisão? Qual programa que mais gosta?

Sim, programas informativos.

O senhor é um dos mais importantes empresários do Ceará. Como deseja que seus netos e bisnetos vejam seu nome na história do Estado e do País?

Um homem que soube o que queria. Fez com prazer. Trabalhou duro. Respeitou o tempo de sua família. Manteve o equilíbrio pessoal e sempre teve muita fé. Um homem que trabalhou para a perpetuação da Pague Menos.

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Acompanhe o ensaio fotográfico completo com exclusividade à Coluna Frisson.

Fotos by Lino Vieira.

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