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"O maior ataque hacker contra uma TV no mundo", por Ricardo Feltrin


Foto: Reprodução

Há 25 anos um grupo hacker invadiu e ocupou o sinal de duas emissoras de TV em Chicago, EUA. Era o dia 22 de novembro de 1997.

A WGN-TV estava exibindo seu telejornal em horário nobre quando, de repente, a imagem sumiu. 

Quando reapareceu, não havia mais jornal, e sim alguém usando a máscara de um personagem de ficção científica, chamado Max Headroom, em meio a chiados. 

Foi tudo muito rápido.

Na mesma noite, cerca de duas horas depois, outra TV de Chicago, a WTTW, também teve seu sinal cortado. 

Novamente a imagem, quando volta, tem o mesmo personagem. Dessa vez, a coisa demora mais (cerca de um minuto e meio). 

Nesse tempo, o invasor ataca profissionais da WGN, depois a Coca-Cola. Ao vivo, o sujeito também emite sons de flatulência e, no final, ainda fez “bundalelê” para as câmeras.

Ninguém jamais descobriu quem foi o autor ou autores, a despeito de muita investigação. 

Muito menos descobriram como ele conseguiu cortar o sinal de uma emissora de TV. Algo que o cinema reproduziria em 2005, com o protagonista do filme “V de Vingança”.

Por mais que esse caso criminoso e escatológico tenha entrado para a história obscura da TV, não chega nem perto do que a Record TV, em São Paulo, vem enfrentando desde a semana passada.

Entre sexta-feira (07) à noite e sábado de manhã (08) a emissora sofreu uma inédita invasão hacker.

Um grupo desconhecido, usando técnicas que já haviam vitimado bancos, operadoras de investimento e até uma gigante das carnes (JBS), derrubaram um arquivo central de conteúdos da Record.

Nesse arquivo ficavam reportagens e quadros gravados, que já haviam sido usados ou ainda seriam exibidos nos programas da emissora.

Fazendo analogia: é como se eles tivessem entrado numa casa pela janela e trocado as fechaduras da casa. 

Do lado de fora, pela janela, os eventuais moradores da casa invadida só conseguiriam ver o caos: uma enorme bagunça nos móveis, tudo quebrado e jogado por todo lado. 

Isso porque os invasores “criptografaram” todo o conteúdo do arquivo. Para sair da casa, eles exigem dinheiro dos proprietários.

De forma heróica, equipes como a do “Cidade Alerta” (ainda no sábado) e do “Domingo Espetacular” conseguiram produzir novas pautas para cobrir os “buracos” causados pela invasão.

Durante a semana a emissora recuperou certo controle na Redação e vem conseguindo se manter com uma programação normal.

O problema é que até o momento em que vocês, leitores e leitoras do Frisson Online, estão lendo esta coluna, a Record ainda não conseguiu recuperar o tal arquivo e tampouco descobrir quem são os criminosos.

Pior: a emissora continua sofrendo um ataque hacker incessante e sufocante. É inimaginável para a maioria de nós, leigos em tecnologia.

A Delegacia de Crimes Cibernéticos de São Paulo destacou seus maiores especialistas para ajudar a emissora. Mas, até agora, nada.

Os hackers estariam pedindo R$ 25 milhões para devolver o acesso ao arquivo. 

Problema é que nada garante que eles já não tenham copiado todo o conteúdo e que, mesmo com o pagamento de um resgate, o despejem na “deep web” (tipo de “internet do B”, acessível só com um programa especial etc.)

Nenhuma nota oficial foi divulgada a respeito.

A despeito disso, não há dúvidas que o que a Record sofreu e está sofrendo já pode ser considerado como a maior invasão cibernética a uma emissora de TV no mundo. Pelo tamanho do Brasil e pelo alcance da emissora. 

Elogiável até aqui o sangue frio do pessoal de TI (Tecnologia de Informação) da Record, que conseguiu salvar muito conteúdo, mesmo sob ataque.

Mas, o caso mostra o quanto as empresas se tornaram vítimas em tempo integral de canalhas criminosos com conhecimento tecnológico.

São pessoas que usaram sua imensa capacidade intelectual para operar nas sombras e lucrar com o sofrimento e prejuízo alheios. 

E lucrar muito: só a JBS admitiu ter pago mais de R$ 50 milhões (em criptomoedas não rastreáveis) para recuperar seus arquivos totais.

Há o caso recente também de uma operadora britânica, que também foi invadida e perdeu US$ 100 milhões (meio bilhão de reais) em criptomoedas. 

Para terminar esta coluna, deixo uma mensagem de pessimismo para todos: pessoas físicas ou empresários (sejam de qual setor forem).

Da mesma forma que os vídeos “deep fake” já estão destruindo vidas e reputações das pessoas, os “hackers” vão cada vez mais tentar destruir o patrimônio de empresas por meio da invasão cibernética.

Sempre foi óbvio que o avanço da tecnologia não vale só para o progresso, mas também para o lucrativo e perverso mundo do crime.

Temo que os piores pesadelos tecnológicos do século 21 só estejam começando.

Por Ricardo Feltrin
@feltrinoficial

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