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Padre Airton faz reflexão sobre as relações a dois


Foto: Reprodução Instagram

Conflituosas são, de per si, as relações a dois. Existe, em cada pessoa, algo que encanta e desencanta, algo que atrai e algo que repulsa. Existe em cada pessoa algo a que damos perfeita adesão e, ao mesmo tempo, algo que não aceitamos existir em quem mais queremos bem. Isso não nos deixa tão contentes. Gera isso, negativamente, por vezes, uma certa emoção que, se não diminui o que alguém, in totum, possa significar, traz consigo algo de que se sente ausente a não saber ou poder por onde começar. Qualquer que seja o estágio em que se venha a chegar, nunca será suficiente, a se dizer: aqui basta; mais do que isso, pode estragar. Se isso acontecer, algo errado está.

A relação a dois há de ser baseada no pressuposto de se poder confiar para burilar. Isto significa dispor-se a aparar as arestas. Trata-se de trabalhar certos excessos e fazer acontecer o que, potencialmente, exista ainda tolhido, por razões que nem se possa, suficientemente, avaliar. Confiar para burilar significa dar uma oportunidade para que o verdadeiro, na relação entre semelhantes, possa aflorar e, a partir dali, naturalmente, possa ser possível responder, ao se perguntar: quem sou eu para ti? Se suficientemente não trabalhada esta permanente tensão, a que responde, entre seres humanos, por certo mal-estar e inquietação, como encontrar saída, se a permanência do conflito é apelo constante à superação do que nega a razão maior de ser? Por onde começar a entender a origem do que nos faz padecer? De onde ocorrem? Dentro ou fora de nós estão? Por quê, então? É preciso, antes, saber: há certas coisas que nos chegam de surpresa e enchem a alma qual represa e, se bem não estivermos preparados, poderemos ser tomados a não se saber os próximos passos a serem dados.

Há certas coisas que nos inquietam o coração. Há outras coisas que nos acalmam e há outras que nos lançam um ponto de interrogação. Quando a tua alma estiver preparada para empreender uma tarefa, iniciar uma jornada, é preciso também que esteja devidamente avisada de que mudanças poderão acontecer, e de que, mesmo na melhor das intenções, nem tudo poderá se dar da forma como se poderia até prever. Por isso, de todo o empecilho, esteja a tua alma desvencilhada, para não acontecer que tu te percas ao longo da jornada. Outros elementos, ainda, hás de considerar: existem algumas coisas em ti que de há muito deveriam ter sido superadas e, por não o terem sido, temem em voltar, como o dizer popular, semelhante a almas penadas. Há coisas que há muito tempo em ti deveriam ter sido resolvidas e, por não terem sido, voltam, vez por outra, atualizadas, perturbando os acontecimentos do real a ser vivido. Todavia, as coisas deixadas em aberto deixam, também, a tua alma como o que a descoberto e, por isso, à procura de um sentido. A proposta que te faço é que tu retomes elementos de tua história e te decidas, de uma vez, a trabalhar os conteúdos que em aberto tiverem ficado, para não acontecer que, em situações sempre novas, tais conteúdos venham a ser atualizados. As coisas deixadas por se resolver voltarão, sempre, em forma de sintomas, como aqueles que te fazem sofrer ou te perder. Todas essas coisas, assim conjugadas, respondem pelas tensões das relações, deixando a alma desassossegada. Superações, pois, precisam ser enfrentadas.

Por quê e para quê? Superação das coisas que foram deixadas, largadas, alijadas, afastadas, sobre as quais nem quiseste pensar, muito menos sobre elas trabalhar, e que precisam de um novo posicionamento, para que tu possas, enquanto é tempo, retomar o trajeto onde não se pôde mais continuar. Assim, haver-se-á de se retomarem os pontos para ti ainda não superados e mostrar-te o caminho por onde, com segurança, haverás de trilhar. O resultado disso é que as intenções da tua largada serão as mesmas que haverás de encontrar no teu ponto de chegada, e não sofrerás, em razão de concessões, por não se fazerem desvios de rumo e direção. Assim como é preciso, por vezes, escutar, para ter, depois, o que falar; assim como é preciso, por vezes, aguçar o olhar pra ter condições, também, de enxergar, é preciso fazer silêncio, para que os ouvidos possam escutar.

Por Padre Airton Freire

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