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Uma questão ética por Padre Airton Freire


Foto: Divulgação

Um dado de realidade a ser considerado acerca das relações interpessoais vem das conseqüências dos atos que se produzem aí. De que maneira? Não só para o imediato do instante em que se dão, mas, ainda, pelo que há de transbordar para muito mais além do que, inicialmente, se pôde imaginar. Devido ao fato de estarmos todos uns aos outros, por algum vínculo, ligados, nada se passa como um fato isolado. A indiferença, em relação a uma da partes em uma mesma situação da qual participa esse mesmo dado. Essa indiferença faz sofrer tanto a parte envolvida afetivamente quanto a parte que se nega a efetivar um traço do que poderia resultar numa via de comunicação. Esse traço, a compaixão, é capaz de realizar a solidariedade, que põe em unidade ambos os lados. 

A compaixão é o avesso da indiferença. Não está acima do outro, de sorte que este se sinta como vivendo a partir do exercício da sua caridade. A compaixão significa o
reconhecimento, na humildade, de que todos nós participamos da humana condição, com limites e potencialidades. Por isso, o gesto compassivo que podemos ao outro dirigir é o que vai na contramão da indiferença, que faz ilhar e não ver uma razão ética para agir, mesmo que a lei não possa prever ou não obrigue o que, no encontro, efetivamente possa se dar. Eu me percebo interpelado pela própria situação do outro, em seu limite, decorrência natural de sua presença, tendo-o diante de mim, o que questiona minha centralidade. Eu me percebo tendo o meu próximo como companheiro de viagem, e essa comunicação torna possível quebrar a ilha, a barreira, o muro da separação que atos alheios a nossa vontade - e que neles já nascemos contextualizados - nos impedem de viver a alteridade em diferentes ocasiões.

Se o que entendemos por amar não se expressar na possibilidade de romper com a indiferença, essa ilha de negação da interdependência, pouco adianta o que se venha a descrever do que os atos humanizantes poderiam ser. Vale o que o amor efetivo, mais que afetivo, possa fazer aqui acontecer. A indiferença vai na contramão do amor solidário; é o diametralmente oposto à compaixão expressa em solidariedade. Pensa sobre esses elementos, medita sobre algum acontecimento em que tu te percebas no teu limite ou numa ação tua acerca do que tem sido, recentemente, a tua expressão de amor conseqüente em determinada situação. Pensando nisso, estarás tratando da vertente da indiferença ou do amor exigente e conseqüente que precisa ser isso, na ética da alteridade, como o nó da questão.

Por Padre Airton Freire

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